sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

 

Cerimônia de Entrega

do

Argos 2021, 2022 & 2023

 

202312132359P4 – 24.168 D.V.

 

“Ana Lúcia Merege terá que construir outra estante em sua biblioteca para abrigar seus troféus do Argos.” (Octavio Aragão)

 

Compareci hoje à cerimônia de entrega dos Prêmios Argos, certames de 2021, 2022 e 2023.  Esse acúmulo se deveu à pandemia de Covid-19, que impediu as reuniões presenciais para a entrega das premiações nos anos passado e retrasado.  Os finalistas e vencedores do Argos 2021 e 2022 nas categorias Melhor Conto; Melhor Antologia ou Coletânea; e Melhor Romance foram anunciados há tempos pela Comissão Organizadora do Argos[1], nomeada pela diretoria do Clube de Leitores de Ficção Científica (CLFC).  Já os finalistas e vencedores deste ano só foram anunciados durante o último terço da cerimônia, como rezam as tradições dessa premiação desde os seus primórdios em 2000.

A cerimônia foi devidamente registrada pelo dublê de presidente do CLFC, Grande Kahuna e cinegrafista amador, Luiz Felipe Vasques, que filmou tudo em seu celular.  O registro pode ser assistido aqui: https://www.youtube.com/live/XLBXr15-ZRs?si=fZ8JIter-OScOVbl


Membros da Comissão Organizadora do Prêmio Argos: Luiz Felipe Vasques e Eduardo Torres.

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Minha intenção de chegar ao auditório do campus tijucano da Universidade Veiga de Almeida a tempo se frustrou, graças a imperícia e/ou imprudência do motorista celerado (mas não acelerado) do ônibus 416 (Horto-Tijuca Expresso: Via Rebouças), que executou a “façanha” de se deixar ultrapassar pelo ônibus seguinte daquela mesma linha, que partiu do ponto de regulação meia hora após o dele, para além de ter permitido que seu veículo morresse umas duas dúzias de vezes ao longo do itinerário, culminando em percorrer em setenta minutos um percurso que um motorista normal teria feito em trinta.  Resumo dessa história triste: saltei na Praça Afonso Pena às 18h05 bastante irritado, pois julguei ter saído de casa com tempo de sobra para chegar ao local com uma lazeira de quinze minutos.  A cerimônia estava programada para começar às dezoito em ponto e ainda precisei caminhar até lá, primeiro pela Campos Sales e, depois, pela Rua Ibituruna.  Itinerário de setecentos e cinquenta metros, percorridos em cerca de dez minutos.

Enfim no campus, dirigi-me até o auditório.  Felipe, Eduardo Torres, Daniel Ribas, Ana Lucia Merege e família já estavam lá.  Octavio Aragão; Ricardo Labuto Gondin e Ricardo França chegaram pouco depois.  Estimo que a cerimônia tenha começado entre dezoito e vinte e dezoito e trinta.

O público presente não chegou a duas dezenas e muitos finalistas e vencedores não nomearam representantes para receber seus certificados ou troféus e ler suas considerações e agradecimentos à plateia presencial e virtual.  Em compensação, muita gente não só acompanhou a transmissão ao vivo, transmitida direto do celular do Felipe, como ainda emitiu seus comentários, saudações e pitacos online para nós.

Na plateia virtual, consegui identificar (por ordem de ingresso na live): Edgar Franco; Lu Evans; Saulo Adami; Ursulla Mackenzie; Diego Mendonça; Oghan N’Thanda; Davenir Viganon; Thamirys G.S. Lemos; Sidemar Castro; Edgar Smaniotto; Clinton Davisson; Hidemberg Alves da Frota.

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O membro da Comissão Organizadora Eduardo Torres atuou como mestre de cerimônias do evento, enquanto o presidente Felipe filmava tudo.

Em primeiro lugar, Eduardo anunciou os finalistas e vencedores de 2021, começando pela categoria Melhor Conto, vencida por Ana Lucia Merege, com “Vovó Nevasca”.  A vencedora não proferiu discurso de agradecimento por já tê-lo feito quanto da cerimônia virtual, transmitida no ano II da pandemia.  Mesmo assim, agradeceu à Lu Evans, organizadora da antologia onde o conto vencedor foi publicado.  Presente em nossa plateia virtual, Lu agradeceu prontamente lá dos EUA.  Ao entregar certificado e troféu à vencedora, Eduardo executou o primeiro de muitos tutoriais de reembalagem do Argos apresentados nesta noite.  Conta a lenda que esse ritual seria fruto de uma antiga tradição do CLFC, oriunda dos primórdios dessa agremiação primeva e sua premiação vetusta, segundo a qual, numa cerimônia do passado remoto, decorrida numa época quase esfumada nas brumas do tempo, os troféus trazidos para premiar os vencedores teriam chegado ao palco destroçados.  Tantos milênios passados, não há como apurar a veracidade dos resíduos (eventualmente) factuais que teriam dado origem ao ritual da reembalagem.  Porém, como rezam os registros arcanos dessa agremiação, “tradição é tradição.”  Portanto, nosso mestre de cerimônias reencenou o tutorial de reembalagem dezenas de vezes para gáudio da diminuta plateia ali presente.

Rito cumprido (pela primeira de uma dúzia de vezes), Eduardo passou à enunciação dos trabalhos finalistas na categoria Melhor Antologia ou Coletânea, cujo vendedor foi Edgar Franco, o famoso “Ciberpajé”, organizador da antologia 2021 (Marca de Fantasia, 2020).  Octavio Aragão leu o discurso de agradecimento do antologista e esse agradeceu da plateia virtual, elogiando o desempenho de seu representante.

Octavio Aragão recebe Argos 2021, Melhor Antologia em nome de Edgar Franco.

 

Enfim, para concluir o certame de 2021, Eduardo enunciou os finalistas e o vencedor na categoria Melhor Romance.  Como já sabíamos, o vencedor foi Ricardo Labuto Gondin, com Pantokrátor (Caligari, 2020).  Aclamado, Gondin subiu ao palco e proferiu seu discurso de agradecimento.


Ricardo Gondin recebe o Argos 2021 (Melhor Romance) por Pantokrátor.

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Encerrado o Argos 2021, Eduardo passou à categoria Melhor Conto do Argos 2022, cujo vencedor foi “Sobre a fé de um andante que teve a cara mastigada”, de Ricardo Celestino, publicado na antologia Outros Brasis da Ficção Científica (Caligo, 2021), organizada por Davenir Viganon.

Em seguida, anunciou os finalistas na categoria Melhor Antologia ou Coletânea, vencida pela própria Outros Brasis da Ficção Científica.

Na categoria Melhor Romance, o vencedor foi Até que a Brisa da Manhã Necrose teu Sistema (Clube de Autores, 2021), de Ricardo Celestino que, ao abiscoitar dois Argos, sagrou-se como o grande vencedor do certame de 2022.

Ainda na categoria Melhor Romance, ao ser convocado ao palco a fim de receber meu certificado de finalista pelo romance distópico infantojuvenil Pecados Terrestres, constatei uma divergência irrisória: a versão publicada em 2021 e que, portanto, concorreu ao Argos 2022, foi a do Somnium e não a da Draco, que abriu a Coleção Dragão Mecânico em 2022.  Ante o impasse, a Comissão Organizadora reconheceu o equívoco do certificado e ensaiou o confisco desse diploma.  Contudo, seguindo o conselho oportuno de Octavio, resolvi manter esse diploma sob custódia até o fornecimento eventual de sua versão correta.😉  Afinal de contas, embora já tenha sido agraciado com o Argos três vezes e ter sido finalista outras tantas, essa foi a primeira vez em que recebi um certificado e o primeiro certificado a gente nunca esquece e, muito menos, abre mão.[2]

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Daí, finalmente, Eduardo Torres passou ao grande momento da noite: a revelação dos vencedores do Argos 2023.  Ao contrário do que ocorreu nos certames de 2021 e 2022, nesse último, nossa pequena plateia presencial aplaudiu todos os finalistas anunciados.

Na categoria Melhor Conto, o vencedor foi “Jogo do Destino”, da Ana Lucia Merege, com 490 votos válidos (34,5% do total); contra 343 do segundo colocado “Sankofa” de Juliane Vicente e 194 do terceiro, “O Renascer dos Deuses”, de Oghan N’Thanda.  Além de seu próprio discurso de agradecimento, Ana leu o do finalista Carlos Relva, autor de “Fica com Mi-go esta Noite”, ovacionado como o título mais espirituoso e divertido desse certame tríplice.

Na categoria Melhor Coletânea ou Antologia, o vencedor foi a coletânea Os Pilares de Melkart (Draco, 2022) de Ana Lucia Merege, com 498 votos válidos (35,0% do total); contra 157 do segundo colocado, a antologia Outros Brasis da Ficção a Vapor (Caligo, 2022), organizado por Davenir Viganon e 150 do terceiro, a antologia Mafaverna: Democracia (Mafagafo, 2022), organizado por Jana Bianchi e Diogo Ramos.  Ao que eu me lembre, desde a introdução dessa categoria em 2013 ou 2014, é a primeira vez em que uma coletânea se sagra vencedora.  Guindada ao palco mais uma vez, em seu discurso, Ana agradeceu a Erick Santos e Raphael Fernandes, publishers da Editora Draco.

Ana Lucia Merege, vencedora do Argos 2023 nas categorias Melhor Conto e Melhor Coletânea.

 

Na última premiação da noite, Argos 2023 na categoria Melhor Romance, o grande vencedor foi Cirilo S. Lemos com Estação das Moscas (Draco, 2022), com 483 votos válidos (34,0% do total), contra 244 do segundo lugar, O Fantasma de Cora (Gutemberg, 2022), de Fernanda Castro; e 151 de Paradoxo de Theseus (Draco, 2022), de Alexey Dodsworth.  Ana Merege leu o discurso de agradecimento enviado por Cirilo.

Mais uma vez, a Editora Draco se sagrou como a grande vencedora do certame anual: sob seus auspícios foram publicados o romance, a coletânea e o conto campeões de 2023, numa decisão amparada por centenas de votos.

Melhor Romance, Melhor Coletânea; Melhor Conto.

 

Selfie panorâmica: Ricardo França; Ana Lucia Merege, Octavio Aragão,

Ricardo Gondin; Luiz Felipe Vasques; Eduardo Torres; GL-R.

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Encerrada a cerimônia oficial, deixamos o campus da Veiga de Almeida.  Alguns de nós se despediram enquanto outros caminharam até o restaurante Salete um pé-sujo com empadas deliciosas na Afonso Pena, pertinho da esquina com a Mariz e Barros.  Seguimos para lá Octavio Aragão; Ricardo França; Daniel Ribas; Eduardo Torres; Luiz Felipe Vasques; eu e Eric Hart, um sócio do CLFC que eu ainda não conhecia e que compareceu à cerimônia do Argos envergando uma camisa da SF WorldCon 2024 em Glasgow.

Embora o garçom Eliano nos tenha informado que o carro-chefe ali era a empada de camarão, por ojeriza ao crustáceo, degustei duas empadas de linguiça e outras duas de costela com agrião, regadas a água com gás, pois o estabelecimento não fornecia vinho de procedência confiável.

Conversamos bastante sobre vários assuntos, ficção científica, inclusive.  Comentou-se desde a beleza estonteante das telecomentaristas esportivas nas mesas-redondas futebolísticas até a mitomania de certas personalidades da FCB.  Comentamos sobre a justiça da vitória de Cirilo Lemos com A Estação das Moscas.  Eric confirmou que realmente irá à SF WorldCon 2024.  Eduardo nos falou sobre suas peripécias em um clube de uísque.  Octavio teceu considerações estilísticas sobre o romance gráfico Saros 123, de Alexey Dodsworth.

Enfim, por volta das 22h00 saímos do Salete.  Octavio pediu um UBER para casa e ofereceu carona ao Ribas, enquanto nós cinco caminhamos até a estação de metrô Afonso Pena e embarcamos no sentido Jardim Oceânico.  Durante a viagem, trocamos dicas sobre séries de streaming com elementos fantásticos.

Saltei junto com Eduardo na estação Botafogo e tomei o ônibus de integração para casa.  Leitura de bordo, romance sensacional Semente Originária (Morro Branco, 2021), da Octavia E. Butler.

Enfim, uma salva de palmas à Comissão do Argos, que conseguiu pôr em dia os três anos do atraso causado pela pandemia.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 2023 (quarta-feira).

 


Participantes Presenciais:

Ana Lucia Merege.

Daniel Russell Ribas.

Eduardo Torres (membro da Comissão Organizadora do Prêmio Argos).

Eric David Hart.

Gerson Lodi-Ribeiro.

Luiz Felipe Vasques (Presidente do CLFC e da Comissão Organizadora do Prêmio Argos)

Octavio Aragão.

Ricardo França.

Ricardo Labuto Gondin.

 

Participantes Virtuais:

Clinton Davisson.

Davenir Viganon.

Diego Mendonça.

Edgar Franco (Ciberpajé).

Edgar Smaniotto.

Hidemberg Alves da Frota.

Lu Evans.

Oghan N’Thanda.

Saulo Adami.

Sidemar Castro (membro da Comissão Organizadora do Prêmio Argos).

Thamirys G.S. Lemos.

Ursulla Mackenzie.

 



[1].  A Comissão é atualmente integrada por Luiz Felipe Vasques (presidente); Eduardo Torres; e Sidemar Castro.

[2].  Entre os certames de 2010 e 2018, o Prêmio Argos só atribuiu troféus, mas não certificados aos vencedores e finalistas.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

 Live

Neandertais na Ficção Científica

Canal Filosofia da Astronáutica e Ficção Científica

 

202308182359P6 – 24.051 D.V.

 

 

“Alguém conhece o livro Homo tempus – o que sobrou do futuro?” (Fabrício Jacob).

 

“Chat GPT tem seus momentos Rolando Lero.” (Hidemberg Frota).

 

Após a sessão do fim de julho nesse mesmo canal, versando sobre a Questão de Fermi e a solução de segunda ordem Floresta Escura, o anfitrião Edgar Smaniotto me convidou para participar do bate-papo “Neandertais na Ficção Científica”, mais uma vez em companhia dos amigos Paulo Elache e Carlos Relva.

Em preparação para o evento, reli à véspera meu ensaio “Neandertais na Literatura Fantástica”[1], recém-publicado na coletânea Primeiros Humanos (Amazon KDP, 2023)[2].

Conectamos através do StreamYard às 20h55, cinco minutos antes do horário marcado para o início da sessão ecoada no canal Filosofia da Astronáutica e Ficção Científica, que Edgar mantém no YouTube. Como das vezes anteriores, o eco no YouTube entrou no ar dez ou quinze segundos depois do que falávamos na sala virtual de bate-papo.


Chamada para a live Neandertais na FC no canal Filosofia da Astronáutica e da Ficção Científica.

 

A sessão memorável se estendeu por três horas e vinte e cinco minutos e transcorreu naquele clima de bate-papo informal ao qual os inscritos no canal já estão acostumamos.

O evento se encontra disponível no YouTube, acessível através do link:

https://www.youtube.com/watch?v=YyU-i1z7MjQ

 

Embora não tenha superado a marca de quinze espectadores em momento alguns das quase três horas e meia de transmissão, o evento contou com uma plateia participante e ativa ao longo de todo o certame. A versão disponível da live esteve com sessenta e cinco visualizações no momento em que concluí esta crônica.

Entre os amigos participantes, compareceram Hidemberg Alves da Frota; e Ricardo Mendonça, além da minha cara-metade, Cláudia Quevedo Lodi.

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Capa da antologia Neanderthals (1987).
 

Após os anúncios & avisos iniciais de praxe, Edgar abriu os trabalhos me apresentando como um especialista em neandertais na FC por conta dos ensaios que publiquei no Somnium e no Megalon, informando também sobre a versão atualizada, incluída na Primeiros Humanos. A seguir, em tom de brincadeira, apresentou Paulo Elache como engenheiro especializado em tecnologia neandertal. Na mesma vibe, ao ser apresentado, Carlos Relva confessou se sentir como um neandertal entre Cro Magnons.

Logo no início da live, lá da plateia, Fabricio Jacob indagou se alguém conhecia seu livro Homo tempus: o que sobrou do futuro. Segundo ele, um romance distópico em que um jovem viaja ao futuro e é capturado por neandertais. Só repararíamos na pergunta algum tempo depois.

Daí, Edgar nos pediu que contássemos sobre nossos primeiros contatos com os neandertais nas narrativas fantásticas. Ele próprio falou que sua primeira experiência foi com “A História de Java”, publicada numa edição brasileira da HQ italiana Martin Mystère. Lembrei en passant dos homens-macacos que aparecem no romance O Mundo Perdido (1912) de Arthur Conan Doyle, embora não tenha certeza se eram ou não neandertais. Então, falei que o neandertal que mais me impressionou como “primeiro contato”, foi o Alaric, mais conhecido como “Knurly”, dublê de sábio e guerreiro, para além de mentor do jovem protagonista do romance Onde Mora o Mal (1982), do Clifford D. Simak, que abordo com detalhes em “Neandertais na Literatura Fantástica”. Nessa ocasião inicial, aproveitei para falar brevemente da antologia Neanderthals (New American Library, 1987), organizada por Robert Silverberg, Martin H. Greenberg & Charles G. Waugh, que reúne boa parte da ficção curta clássica sobre o Homo sapiens neandertalensis.[3], ainda aproveitei para citar brevemente as novelas Down to the Bottomlands (1993) de Harry Turtledove e A Vingança da Ampulheta (2000) de Fábio Fernandes e a trilogia The Neanderthal Parallax (Tor Books, 2002 e 2003) de Robert J. Sawyer. Lá do chat do YouTube, Hidemberg comentou que os neandertais de Sawyer possuiriam uma sexualidade fluida.

Falamos um pouco das diferenças cerebrais hipotéticas entre neandertais e humanos anatomicamente modernos, intuídas a partir das diferenças entre os crânios de neandertais e humanos fósseis.

Voltando à questão inicial do Edgar, Paulo revelou que seu primeiro contato com os neandertais ficcionais foi com a tirinha do Brucutu. Em seguida, nosso anfitrião falou sobre a frequência com que os neandertais aparecem na literatura, fantástica mas não só. Daí, divagamos para as causas prováveis para o desaparecimento dos neandertais, passando do genocídio praticado pelo Homo sapiens sapiens à assimilação genética e ao consumo excessivo de carne vermelha pelos neandertais.

De divagação em divagação, mergulhamos nos supostos atributos sexuais dos neandertais e isso me deu oportunidade de comentar a novela sensacional do Philip José Farmer, The Alley Man (1959), presente na antologia Neanderthals.

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Eram decorridos cinquenta minutos da sessão, quando Fabrício Jacob mencionou lá no chat do YouTube que alguns testes genéticos atuais indicam o percentual de genes neandertais em nosso genoma e afirmou que ele teria 2,4% de DNA neandertal. Isso nos levou a finalmente perceber a questão inicial do autor, supracitada. Infelizmente, nenhum dos quatro e, ao que suponho, tampouco nenhum dos presentes em nossa plateia virtual, já ouvira falar do romance Homo tempus, que se encontra à venda na Amazon brasileira em edições impressa e e-book.

De volta à temática dos neandertais na literatura, lembramos da coletânea do Brian W. Aldiss, Intangibles Inc. and Other Stories, publicado no Brasil pela Cultrix com o título capcioso de O Planeta de Neanderthal (1972), por causa do conto homônimo, um dos mais curtos do livro.

Pouco mais tarde, comentamos o romance da Jean M. Auel, Ayla, a Filha das Cavernas (Record, 1991), cujo título original foi The Clan of the Cave Bear.[4]  Falamos também do filme kitsch antigão Iceman (1984), em que um neandertal é encontrado sob o gelo e revivido por uma equipe de exploração do Ártico. Esse filme nos fez debater os limites e a pseudociência das técnicas de criogenia. Dali para especularmos sobre hibernação de seres humanos foi um pulo.

A partir de uma pergunta que Dioberto Souza lançou no chat, abordamos um filme que adoro, Guerra do Fogo (1981), não obstante ser um drama pré-histórico desprovido de elementos fantásticos. Recordamos que os protagonistas desse filme eram de fato neandertais.

Daí, divagamos para um vício antigo: as sagas e narrativas da franquia Perry Rhodan. Conquanto recorrente, essa divagação nem é tão off-topic assim, uma vez que há um personagem neandertal nessa série longeva. Ao longo do preparo desta crônica, não resisti e acabei entrando no site da editora SSPG e comprando o nº 1.000 da série: O Terrano.

Só nesse ponto, aos noventa e três minutos da sessão, Carlos Relva revelou que seu primeiro contato com as narrativas neandertais se deu através da série pré-histórica Korg: 70.000 a.C. (1974), cuja única temporada foi exibida na primeira metade da década de 1970. Sempre julguei o protagonista dessa série parecido com um tio meu. Mas, enfim, questões familiares à parte, todos os episódios de Korg estão disponíveis no YouTube (em inglês).

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Saindo um pouco da ficção em direção à ciência, lembrei que esse papo de que os neandertais tomaram pau dos humanos anatomicamente modernos na Europa é algo relativo. Pois, na primeira expansão do Homo sapiens sapiens para fora da África, cerca de cem mil anos atrás, nossos antepassados conquistaram a Ásia aos Homo erectus e ocuparam a Oceania, mas foram rechaçados na Europa. Citei muito de passagem a tese instigante da predação neandertal sobre os anatomicamente modernos, defendida por Danny Vendramini em seu livro, Them + Us: How Neanderthal Predation Created Modern Humans (Kardoorair Press, 2011).

Ao cruzar dos cento e vinte minutos de transmissão, retomamos a noveleta “The Gnarly Man” (1939), de L. Sprague de Camp, outro ponto alto de Neanderthals.[5]  Nessa trama, uma paleoantropóloga algo ninfomaníaca tropeça num espécime neandertal clássico que trabalhava como homem-macaco num pequeno circo dos horrores de uma daquelas feiras de variedades tão comuns nos EUA das décadas de 1930 e 40. Ao comprovar a autenticidade do espécime, a cientista descobre que a criatura possui cerca de cinquenta mil anos de idade. Os trechos mais divertidos da noveleta são os comentários, ora espirituosos, ora depreciativos, que o neandertal tece sobre a ascensão cultural de seus primos sapiens sapiens. Um cirurgião notório e inescrupuloso se oferece para reparar algumas fraturas do neandertal, consolidadas de forma incorreta ao longo dos milênios. Porém, em verdade, o médico pretende descobrir todos os segredos metabólicos e anatômicos do espécime, mediante uma pequena autópsia de seu crânio.

Essa narrativa do Sprague de Camp fez com que Carlos se lembrasse de uma HQ antológica sobre outro neandertaloide imortal, que seria o homem mais feio do mundo. Aventura publicada na revista Kripta, “Nunca é Muito Tempo”, sem nos perdermos em spoilers desnecessários, basta dizer aqui que a moral última dessa HQ é que “não há nada tão ruim que não possa piorar”.

A partir de uma ilustração que Edgar mostrou da edição brasileira da Martin Mystère, mostrando um neandertal musculosíssimo ao lado de uma neandertal com linhas anatômicas modernas, comentei que algumas espécies mamíferas apresentam dimorfismo sexual mais pronunciado do que outras. Entre os tigres, por exemplo, machos e fêmeas possuem tamanhos e aparências semelhantes, similaridades que já não ocorrem entre leões e leoas, não obstante a proximidade genética entre essas duas espécies de felídeos. Também entre os gorilas e os orangotangos, os machos são bem maiores do que as fêmeas. Daí, é admissível conceber que, entre os neandertais, eles pudessem ser muito maiores do que elas.

Já eram decorridos cento e cinquenta minutos de sessão, quando enfim abordamos a novela do Fábio Fernandes A Vingança da Ampulheta, que só havíamos citado de passagem hora e meia antes. Reafirmei considerar esse trabalho publicado na antologia Intempol: uma antologia de contos sobre viagens no tempo (Ano-Luz, 2000), organizada por Octavio Aragão, a melhor abordagem de personagem neandertal na literatura fantástica lusófona. Daí, sim, pudemos dedicar uns bons minutos ao Dualai, antagonista neandertal de A Vingança da Ampulheta.

 


Capa da edição capa dura da coletânea Primeiros Humanos, que reúne as narrativas do

U.F. Astronautas Paleolíticos e o ensaio “Neandertais na Literatura Fantástica”.

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Trecho de “Neandertais na Literatura Fantástica:

A Vingança da Ampulheta de Fábio Fernandes não constitui história alternativa propriamente dita, mas antes, um trabalho de ficção científica com fortes elementos de história alternativa; como costumam ser, aliás, vários dos trabalhos que descrevem os esforços e as peripécias de agentes das patrulhas temporais para preservar a integridade de nossa linha histórica (NLH).

Justo nesse proposito de manter a NLH nos trilhos corretos, banindo todas as linhas históricas alternativas e pontos de divergência indesejáveis, é que os agentes da Intempol “colidem” com Dualai, um cronoterrorista de origem misteriosa, que surge nos locais mais inesperados; sobretudo naqueles vulneráveis a divergências significativas, capazes de obliterar a história e a própria realidade “tais como nos as conhecemos”.

Só que Dualai não é um mero cronoterrorista, o tipo motivado por ideais políticos equivocados ou por simples loucura. É antes um crononauta neandertal, talvez o último dessa estirpe, sobrevivente do genocídio provocado pela humanidade anatomicamente moderna tão só pelo fato de ter estado em trânsito temporal quando o holocausto se abateu sobre seu povo.

Ao tentar reverter a situação, restaurando sua própria linha histórica, apagada pela ação da Intempol, ou, quando não o consegue e decide se vingar dos exterminadores de sua gente, Dualai se transforma não em mero cronoterrorista, mas num guerrilheiro temporal, que luta de forma desesperada e insana pela sobrevivência da sua cultura.

A Vingança da Ampulheta é uma novela instigante, de enredo complexo e movimentado. Sua trama repleta de reviravoltas admite a hipótese de se assumir a presença de Dualai como um elemento menor, uma pitada de tempero adicional num prato em si já saboroso. É possível que seja assim. No entanto, também é possível que Dualai seja mais do que isto.

Em primeiro lugar, Dualai é de longe o personagem neandertal mais interessante e mais bem estruturado da ficção científica lusófona. Uma figura vívida e estimulante, ainda mais quando levamos em conta o quão tímida e imatura costuma ser a abordagem do alienígena, do robô ou, em termos genéricos, do outro na FC lusófona em geral e na brasileira em particular, sobretudo, quando comparada com o que se faz no mundo extralusófono.

Em segundo lugar, a ideia instigante e original do conflito entre duas linhas históricas antagônicas – uma neandertal e a outra habitada por humanos anatomicamente modernos – abriga um potencial tremendo, do qual poderá germinar não um simples romance, mas todo um universo ficcional repleto de multilogias, haja vista o exemplo da trilogia do autor canadense Robert J. Sawyer, The Neanderthal Parallax.

Em sua essência, a proposta de Fernandes é ainda mais ambiciosa que a de Sawyer. Porque A Vingança da Ampulheta não nos fala apenas do contato entre duas linhas históricas, habitadas por espécies humanas distintas. Pelo que se depreende da leitura da novela, havia originalmente duas culturas tecnológicas, a nossa e a neandertal. Ambas capazes de viajar no tempo. Num belo dia, uma delas – a nossa, representada no enredo pelos agentes da Intempol – regressa dezenas de milênios ao passado e elimina a civilização rival no nascedouro.

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Aos cento e sessenta minutos do certame, recomendei muito brevemente a série de ficção científica La Brea, atualmente veiculada na Globoplay. Brevemente, porque, conquanto instigante, até aonde eu assisti, a série não tem nada a ver com neandertais.

Abordamos não tão brevemente, o romance Devoradores de Mortos (Rocco, 1998) do Michael Crichton, em que um grupo de guerreiros vikings combate uma tribo de humanoides no norte da Europa que parecem muito com neandertais.

Ao fim da sessão, a pedido do Paulo Elache, falamos um pouco do Prêmio Argos. Edgar ofereceu seu canal para veicular a próxima cerimônia de entrega da premiação.

Dioberto indagou se havia alguma obra de FC que aborde os denisovianos. Respondi que, ao que eu soubesse, não. Porém, existem abordagem de outros hominídeos não humanos, como, por exemplo, o romance Ancient of Days (Arbor House, 1985), de Michael Bishop, um triângulo amoroso divertido entre um marido enganado, uma esposa que sabe o que quer e um Homo habilis.[6]  Também lembrei o romance fix-up de história natural alternativa escrito pelo Harry Turtledove, A Different Flesh (Worldwide, 1989), em que as Américas não são habitadas pelos povos originários, mas sim pelo Homo erectus.

Já no apagar das luzes, aventamos a possibilidade de uma live sobre a trilogia da terraformização de Marte do Kim Stanley Robinson. Só que descobrimos que nenhum dos quatro havia lido qualquer dos três livros. De forma que, antes, precisaremos fazer nossos deveres de casa. Também aventamos a possibilidade de analisarmos o romance polêmico Aurora do mesmo autor.

Enfim, despedimo-nos, primeiro da plateia e então uns dos outros, após duzentos e cinco minutos de transmissão. Um dos meus assuntos prediletos, numa sessão de discussão excelente. Que venham outras!

Ao fim, depois que eu e Edgar nos desconectamos, Carlos e Paulo ficaram falando sozinhos por mais de um minuto. Não participei desse papo, mas suspeito que tenham falado sobre Perry Rhodan!😊

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 18 de agosto de 2023 (sexta-feira).

 


Participantes:

Carlos Relva.

Cláudia Quevedo Lodi

Dioberto Souza.

Edgar Smaniotto.

Fabrício Jacob (autor de Homo tempus)

Gerson Lodi-Ribeiro.

Hidemberg Alves da Frota.

Paulo Elache Duarte.

Ricardo Mendonça



[1]. Fusão de dois ensaios anteriores, publicados há coisa de duas décadas, “Neandertais na Ficção Científica” (Somnium nº 86 – setembro 2002) e “Neandertais na História Alternativa” (Megalon nº 66 – setembro 2002).

[2]. Coletânea composta pela novela Variedade Glabra e os contos “Os Últimos Humanos” e “Fênix Ri por Último”, para além do ensaio supracitado.

[3]. Só agora, no processo de escrever esta crônica, recordei ter lido a noveleta “O Garotinho Feio” de Isaac Asimov – sobre uma criança neandertal trazida ao presente por uma máquina do tempo – em 1975, na coletânea do autor, Nove Amanhãs (Expressão e Cultura, 1973), quase uma década antes de estabelecer contato literário com Knurly.

[4]. Nanorresenha do meu bunker de dados: Ayla, a Filha das Cavernas – Romance pré-histórico por excelência. Primeiro romance da saga pré-histórica de Ayla, uma criança cro-magnon criada por uma tribo de neandertais, após uma catástrofe natural que vitimou seus semelhantes. Aos cinco anos, Ayla já sabia falar. Mas os neandertais de Auel não possuem linguagem articulada. Comunicam-se através de um conjunto de gestos e trejeitos complexos, complementados por uns poucos grunhidos. Portanto, a criança é obrigada a aprender a se comunicar com sua tribo adotiva e, assim fazendo, acaba se esquecendo não apenas da linguagem de seu povo, como das memórias de sua primeira infância que haviam culminado na perda traumática de seus pais. Ayla é adotada por Iza, a curandeira da tribo e irmã de Creb, o Mog-ur (sumo sacerdote) não apenas daquela tribo, mas de todas as tribos componentes do Clã do Urso da Caverna, que é como os neandertais designam sua própria subespécie. Brun, chefe da tribo e irmão tanto de Iza quanto do Mog-ur, deixa-se convencer a permitir que a garota seja adotada por seu povo. Só que os problemas de adaptação de Ayla perturbam não apenas a felicidade da jovem, mas a própria paz de espírito da tribo. O funcionamento da mente dos neandertais de Auel é muito diferente do funcionamento da mente dos humanos modernos. Pelo formato do crânio neandertal, sabemos que, embora o cérebro daquela subespécie fosse um pouco maior do que o dos humanos modernos, nele os lobos frontais eram bem menos desenvolvidos do que em nós, ao passo que os lobos parietais eram proporcionalmente mais desenvolvidos. Ora, de acordo com a visão neurológica tradicional, os lobos frontais, onde reside o neocórtex, é a sede do pensamento abstrato e, portanto, da linguagem articulada, a qual, segundo Auel, constitui atributo exclusivo dos humanos modernos. Por outro lado, os lobos parietais são considerados a sede da memória. De acordo com a autora, o desenvolvimento exacerbado dessa região do cérebro nos neandertais lhes concederia uma espécie de memória racial, o que lhes permitiria transmitir experiências geneticamente através das gerações. Claro está que essa falácia pseudocientífica da herança de caracteres adquiridos contraria frontalmente a Teoria da Evolução de Darwin. Ao ser adotada por uma curandeira, ao se tornar adulta, Ayla deveria se tornar uma também. Só que, ao contrário de uma criança neandertal que fosse filha genética de Iza, Ayla não possui as memórias genéticas de antigas curandeiras da tribo e, por isso, deve aprender todo o nobre e difícil ofício a partir do zero. Um fato que a ajuda, contudo, é sua notável capacidade de abstração, que lhe permite apreender novos conceitos e conhecimentos muito mais rápido do que um indivíduo neandertalense. Do ponto de vista dos neandertais, Ayla é incrivelmente feia. E, para piorar as coisas, ela não consegue obedecer os homens da tribo de modo tão automático quanto o fazem as outras mulheres. Chega até mesmo ao ponto de desafiar as tradições veneráveis do Clã do Urso das Cavernas, assumindo papéis sociais exclusivamente masculinos. Ayla, a Filha das Cavernas é um romance maciço: quase quinhentas páginas impressas em tipo pequeno. Pela quantidade de pesquisa que a autora fez e pelo nível de detalhe que emprega, imagino que tenha sido uma obra bastante difícil de escrever. Há trechos em que o romance flui bem; há outros, porém, em que a leitura se torna um tanto ou quanto maçante. No todo, é um romance que vale à pena ser conferido, sobretudo se você é daqueles leitores que curte paleontologia e antropologia, tanto física quanto cultural. Quando do lançamento de A Oeste do Éden, o autor estadunidense Frank M. Robinson saudou esse romance de Harry Harrison como sendo: “O Clã do Urso das Cavernas para pessoas inteligentes”... Independentemente das qualidades superiores desse clássico da história natural alternativa, não é demérito algum apreciar a leitura de Ayla, a Filha das Cavernas, muito pelo contrário. Esse primeiro romance conquistou enorme sucesso no exterior e um relativo êxito comercial no Brasil (meu exemplar é a 3ª edição da Record), dando origem a quatro continuações, que dão prosseguimento às aventuras de Ayla: O Vale dos Cavalos; Caçadores de Mamutes; Planície de Passagem; e O Abrigo de Pedra.

[5]. Essa antologia temática reuniu algumas das melhores histórias do gênero sobre neandertais até a época em que foi publicada. Inclui:

“Neanderthal Man” (introdução de Isaac Asimov);

“Genesis” [H. Beam Piper];

“The Ugly Little Boy” [Isaac Asimov];

“The Long Remembering” [Poul Anderson];

“The Apotheosis of Ki” [Mirian Allen deFord];

“Man o' Dreams” [Will McMorrow];

“The Treasure of Odirex” [Charles Sheffield];

“The Ogre” [Avram Davidson];

“Alas, Poor Yorick” [Thomas A. Easton];

“The Gnarly Man” [L. Sprague de Camp];

“The Hairy Parents” [A. Bertram Chandler];

“The Alley Man” [Philip José Farmer];

“The Valley of Neander” (ensaio de divulgação Científica de Robert Silverberg).

[6]. Romance constituído pelo fix-up de três novelas: “Her Habiline Husband”; “His Heroic Heart” e “Heritor’s Home”. Desventuras de quarentão estadunidense sulista bom caráter, ainda apaixonado pela ex-esposa, que se vê trocado por um exemplar do Homo habilis que aparece no sítio de sua ex. A primeira novela fala do início do romance de RuthClaire com o habilino Adam Montaraz e da reação da cidadezinha da Geórgia onde residem. A segunda trata do casamento de Ruth e Adam, das carreiras artísticas de ambos e do sequestro do filho do casal. A terceira e última novela fala do retorno de Adam à Ilha de Montaraz e a descoberta dos últimos remanescentes dos habilinos no Novo Mundo.

segunda-feira, 31 de julho de 2023

 Live

Hipótese da Floresta Escura

Canal Filosofia da Astronáutica e Ficção Científica

 

202307282359P6 – 24.030 D.V.

 

“Somos o Show de Truman da Via Láctea.” (J. Alexandre Freitas, da plateia).

 

“Era uma vez uma criança perdida na mata, chorando alto, questionando-se por que ninguém a socorria e atraindo os lobos com seu choro.  Um dos personagens explica: ‘Empoleirados em nossa árvore, piamos como passarinhos tolos por mais de um século nos perguntando por que outros pássaros não respondem aos nossos pios.  É que os céus galácticos estão repletos de falcões.  Culturas planetárias pouco sábias para se manterem caladas, são devoradas.’ ”. [The Forge of God, Greg Bear]

 

A partir de um convite feito pelo amigo Edgar Smaniotto duas semanas atrás, participei hoje à noite de uma live sobre a Hipótese da Floresta Escura, tese popularizada na trilogia Lembrança do Passado da Terra[1], do autor chinês Cixin Liu, como pretensa solução para o Paradoxo de Fermi.

No início, julguei que a live só ocorreria na última sexta-feira de agosto.  Porém, anteontem, descobri que o evento se daria hoje.

À guisa de esquentar os tamborins para o evento, li pela manhã desta sexta-feira as resenhas do amigo Newton “Nitro” Rocha sobre os romances da trilogia, com direito a uma crítica para lá de perspicaz sobre as limitações da hipótese referida.[2]

Enfim, poucos minutos antes das 21h00, cliquei no linque enviado e me reuni com os amigos Edgar, Carlos Relva, Paulo Elache e Marcus Valério XR.  Enquanto nosso anfitrião confirmava a estabilidade das conexões via StreamYard, discutimos a terminologia “Floresta Escura”, comparando-a com “Floresta Sombria” (título em português do segundo romance da trilogia de Cixin Liu) e “Floresta Negra” (que rejeitamos de pronto, por sua associação gastronômica inescapável).  Verificações concluídas, abrimos a sessão ao público, ecoando-a do StreamYard praticamente ao vivo (com um retardo de poucos segundos) até o canal Filosofia da Astronáutica e Ficção Científica, que Edgar mantém no YouTube.

Chamada para a live Hipótese da Floresta Escura no canal Filosofia da Astronáutica e da Ficção Científica.

 

Toda a sessão de quase três horas de duração transcorreu num clima de bate-papo informal e não de mesa-redonda, aliás, bem ao estilo ameno e tranquilo dos eventos anteriores de que participei com o trio Smaniotto, Relva e Elache.

O evento se encontra disponível no YouTube, acessível através do link:

https://www.youtube.com/watch?v=XuaCLB9BogI

Embora não tenha superado a marca de quinze espectadores em momento alguns das duas horas e quarenta e nove minutos da transmissão, o evento contou com uma plateia participante e ativa durante esses quase cento e oitenta minutos.  A versão disponível da live esteve com mais de cem visualizações no momento em que concluí esta crônica.

Entre os amigos participantes, compareceram Clinton Davisson; Flávio Medeiros; Hidemberg Alves da Frota; e Sidemar Castro.

*     *      *



 

Capa original do romance O Problema dos Três Corpos.

 

Edgar abriu o bate-papo indagando se a Hipótese da Floresta Escura solucionaria ou não o Paradoxo de Fermi, questão falsamente atribuída ao físico italiano Enrico Fermi, “Onde está todo mundo?”, apresentada diante das alegações expressas em estimativas otimistas sobre a probabilidade da existência de uma miríade de civilizações tecnológicas alienígenas e a ausência de provas concretas da presença dessas civilizações tanto na Terra quanto “lá fora”.  Portanto, o suposto paradoxo expressaria a contradição aparente entre essas estimativas elevadas e a falta de evidências da existência das civilizações alienígenas.

Comecei conceituando o suposto paradoxo – apesar de, aqui entre nós, eu preferir o termo “Questão de Fermi”[3].  Para tanto, foi necessário dar umas poucas pinceladas iniciais sobre a Equação de Drake, destrinchando os termos mais críticos dessa tentativa preliminar de estimar a quantidade de civilizações tecnológicas existente na Via Láctea.  Em seguida, falei da questão em si e das soluções propostas por diferentes astrobiólogos, citando o livro do Stephen Webb, Where is Everybody?: Seventy-Five Solutions to the Fermi Paradox and the Problem of Extraterrestrial Life (Springer, 2015)[4].  Uma das soluções propostas por Webb é a Hipótese Berserker, na qual civilizações tecnológicas avançadas lançariam sondas estelares genocidas para aniquilar outras civilizações florescentes, ainda em seus nascedouros, por assim dizer.  Pois bem, a Hipótese da Floresta Escura constitui uma subvariante da Berserker, diferindo dela ao admitir que muitas civilizações alienígenas poderiam sobreviver desde que se mantivessem em silêncio.  A Floresta Escura pode ser enxergada então como um caso especial da Hipótese Berserker, em que as sondas berserkers assassinas (devido à otimização ou à escassez e recursos) só seriam enviadas a sistemas estelares que exibissem sinais de vida inteligente. [5]

Daí, advoguei a gênese provável da Hipótese da Floresta Escura no romance The Forge of God (1987) de Greg Bear, cujo trecho crucial tomo a liberdade de colocar na citação em epígrafe desta crônica.

Infelizmente, nessa fala inicial, esqueci de citar aquela que considero simplesmente a melhor apresentação da Hipótese da Floresta Escura no âmbito da ficção científica, que é o romance The Killing Star (Avon Books, 1995), de Charles Pellegrino & George Zebrowski, que mostra uma civilização humana utópica espalhada pelo Sistema Solar na segunda metade do nosso século sendo aniquilada por um bombardeio relativístico alienígena.  Mais tarde, os alienígenas explicam sua motivação biosfericida aos últimos sobreviventes humanos: “no instante em que vocês desenvolveram técnicas para viajar a velocidades relativísticas, nós os classificamos como vizinhos cósmicos perigosos.  Porque nós assistimos aos seus seriados de ficção científica e concluímos o que vocês fariam conosco se nós lhes déssemos oportunidade.”

*     *      *

 

Em seguida, Marcus Valério condenou o termo “Floresta Escura”, advogando uma analogia da situação das civilizações tecnológicas na Via Láctea com vasos perdidos um oceano infinito e vazio em vez de uma floresta.  Em seguida, falou sobre as dificuldades de se detectar indícios de civilizações alienígenas remotas por meio de transmissões radiofônicas ou congêneres.  Daí, criticou as premissas da trilogia de Liu em si.  Também nos recordou dos temores exalados pelo Stephen Hawking no que tange a transmissão de mensagens a civilizações alienígenas hipotéticas.  Enfim, afirmou defender uma versão atenuada da estratégia da Floresta Escura.

Quando Marcus encerrou a fala inicial de sua participação, da plateia, Flávio Medeiros provocou-nos, indagando se a humanidade não estaria involuntariamente encenando uma espécie de reality show para deleite das civilizações de um consórcio galáctico hipotético.  Questão que me fez lembrar da situação exatamente oposta, ou seja, da humanidade de um futuro remoto se regozijando com as agruras cotidianas de uma cultura alienígena mais primitiva, de âmbito planetário, conforme Brian Aldiss bem retratou em sua trilogia Helliconia.[6]

*     *      *

 

Paulo Elache afirmou crer que a ausência de contatos radiofônicos com civilizações alienígenas se deve ao grave problema da atenuação do sinal ao longo de distâncias estelares e galácticas.

Nesse ponto, não resisti e, a título de piada, indaguei sobre os nudes gravados numa placa de ouro enviado pelas sondas Pioneer para fora do Sistema Solar e à possibilidade de sofrermos um cancelamento galáctico.  Voltando a falar sério, mencionei a celeuma recente na Astrobiologia sobre se devemos transmitir mensagens Via Láctea afora ou apenas tentar captá-las, sem chamar atenção para nós próprios.

Clinton Davisson indagou sobre a possibilidade da solução do Paradoxo de Fermi passar por algo do gênero da Primeira Diretiva proposto na franquia Jornada nas Estrelas.  Indagação que deu margem a discorrermos sobre os riscos – tanto no esforço SETI quanto na elaboração de enredos de ficção científica – do excesso de antropomorfização.  No quesito dificuldades intransponíveis de comunicações com alienígenas, subquesito mentalidades mutuamente insondáveis, Elache citou o exemplo notável que o autor polonês Stanislaw Lem nos mostra em seu romance Fiasco.

Nesse instante, da plateia, J. Alexandre Freitas levantou a indagação filosoficamente profunda sobre o que seria pior: a certeza de estarmos sozinhos ou de não estarmos sozinhos na vastidão do universo?  A indagação lembrou o argumento expresso por Peter D. Ward & Donald Brownlee no livro Rare Earth: Why Complex Life is Uncommon in the Universe (Copernicus Books, 2000)[7] e me levou a enunciar a solução do merecimento: “a solução é antropológica.  Os alienígenas estão aqui nos observando, mas chegaram à conclusão de que a humanidade ainda não está madura o suficiente, pois julgam que um contato eventual nesta fase do nosso desenvolvimento cultural seria prejudicial.  Ou, pior: eles ainda não fizeram contato conosco porque nós não merecemos.  Os alienígenas olham para tudo o que está acontecendo à nossa volta por nossa própria incúria e concluem que não merecemos ingressar na confraria galáctica.”  Ecos distantes da noveleta magnífica de história alternativa e SETI, do Fredrik Pohl, “Esperando os Olimpianos”, publicada entre nós na Issac Asimov Magazine.

Marcus opinou que o pior para a humanidade seria estar absolutamente sozinha no universo.  Argumentei que, se fôssemos a única espécie inteligente do cosmos, após milênios de diáspora estelar, muitos dos nossos descendentes remotos se tornariam alienígenas.  Daí falamos um pouquinho sobre as estratégias antagônicas de pantropia e terraformização.

Em seguida, discutimos a questão da forma humanoide.  Nas mídias audiovisuais, a questão é essencialmente de limites orçamentários.  Nesse ponto, citei o artigo clássico de G.G. Simpson, “The Nonprevalence of Humanoids”.[8]  Edgar advoga a necessidade de órgãos de manipulação minimamente similares às mãos humanas, os demais participantes o acusaram de chauvinismo anticefalópode.  Da plateia, Flávio brada:

— Tentaculofóbicos!

*     *      *

The Killing Star, de Charles Pellegrino & George Zebrowski.

 

Na tentativa de trazer o debate de volta à Hipótese da Floresta Escura, Edgar afirma que, dentro da variante Ultimate do Universo Marvel, Galactus seria uma inteligência artificial disposta a eliminar toda a vida orgânica da Via Láctea.  Elache defendeu a natureza tradicional e canônica de Galactus como arquipredador, e seu direito de consumir planetas e civilizações à medida das suas necessidades cosmofágicas.  Carlos Relva lembrou que o velho Galactus andava de saias e sem cuecas.  Retruquei que Galactus não tinha nada a esconder.  Nesse ponto, Edgar aventou a hipótese de editar a live para cortar nossos comentários desabonadores à virilidade galáctica, por assim dizer.😊

Nesse ponto, Marcus questionou os demais sobre nossas soluções favoritas para a Questão de Fermi.  Elache insistiu na solução da atenuação das transmissões eletromagnéticas, mas apresentou diversas maneiras de contornar a dificuldade, tais como megaexplosões termonucleares, feixes de neutrinos ou taquiônicos e ondas gravitacionais.  Defendi a fusão das soluções da Terra Rara, com a da quarentena e da atenuação.  Aproveitei o ensejo para citar a crítica da Hipótese da Floresta Escura que Newton Nitro apresentou em sua resenha da trilogia do Cixin Liu.  Carlos se alinhou à tese do Newton.  Comentei que, de umas décadas para cá, com os avanços tecnológicos, a humanidade se tornou muito menos barulhenta em relação à nossa vizinhança cósmica do que éramos sessenta anos atrás.

Da plateia, Clinton e Sid Castro observaram que o limite da velocidade da luz impõe dificuldades às diásporas estelares humana e alienígenas, o que nos levou a discutir estratégias eventuais para viajar periferia galáctica afora num futuro remoto em velocidades próximas à da luz.  Esses argumentos, por sua vez, levaram à consideração dos riscos de tentar imaginar aquilo que nossos descendentes distantes, intelectualmente muito mais capazes do que nós, cogitarão sensato empreender.

If the Universe is Teeming with Aliens... WHERE IS EVERYBODY ?

*     *      *

 

Pouco antes de alcançarmos os cem minutos da sessão, Edgar cita o enredo de A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil (2014), da Becky Chambers, elogiando as discussões astrobiológicas e a postura pacifista da autora.  Paulo Elache lembra do Devoradores de Estrelas (2021)[9], do Andy Weir, uma das melhores descrições de alienígena não humanoide que li nos últimos tempos.

Voltando à questão da Floresta Escura, abordamos as intervenções e incursões dos trissolarianos ao Sistema Solar, o que me levou a externar minha indignação represada contra a tibieza moral da personagem Cheng Xin, astrofísica chinesa que em várias ocasiões age no sentido de obliterar o destino da humanidade em nome de um amor equivocado pela vida em geral e por nossa espécie em particular.

A partir de uma pergunta do Clinton, expliquei o resultado inicialmente ambíguo de uma das experiências das sondas Viking que amartissaram no planeta vermelho em 1976.  O falso positivo desse resultado inicial acabou sendo explicado por reações químicas não biológicas, para decepção dos estudiosos responsáveis pela missão e do público em geral.  Esse tópico nos levou a abordar as evoluções planetárias (e eventualmente biológicas) passadas e futuras de Vênus e Marte, questões que desembocaram na possível desativação futura da Corrente do Golfo, que resultaria em invernos muitíssimos mais rigorosos ao hemisfério norte da Terra.

*     *      *

 

Já na fase final da sessão de bate-papo, quando nosso anfitrião indagou se tínhamos outras colocações a expor à plateia, aproveitei o ensejo para citar en passant a teoria das máquinas autorreplicantes de Von Neumann advogada por Frank J. Tipler numa série de artigos publicados na década de 1980 como solução para a Questão de Fermi.[10]  Concluímos que a estratégia de construção desenfreada de máquinas de Von Neumann não seria uma postura das mais inteligentes e que, provavelmente, atrairia represálias energéticas de outras civilizações alienígenas avançadas.

Também nessa fase, de repente, na questão mais pedaçuda levantada pela plateia nesta live, Dioberto Souza indagou se “descobrindo dados inequívocos de que houve vida em Marte, não ocorrerá consequências de conflitos na Terra entre facções da ciência e religião?”

Respondi que, embora algumas consequências ruins possam eventualmente ocorrer a partir de uma descoberta hipotética de vestígios de vida microbiana no passado paleontológico marciano, captar a mensagem de uma cultura alienígena mais sábia do que a humana e começar a entabular diálogo com essa cultura que nunca foi “salva” por uma figura messiânica seria muito mais impactante e potencialmente mais danoso às visões de mundo inspiradas nas propostas das grandes religiões.

Edgar opinou que os sistemas religiosos são muito mais adaptáveis e resilientes às descobertas científicas modernas do que alguns vãos filósofos agnósticos parecem supor, citando as proposições de Teilhard de Chardin para corroborar seu ponto.

Marcus advogou que a única descoberta que, a seu ver, constituiria um golpe de morte às religiões organizadas seria a conquista da imortalidade.  Afirmação que me fez lembrar do enredo da novela clássica de Orígenes Lessa, A Desintegração da Morte.

Edgar defendeu que o futuro das religiões será similar à visão apresentada na série Babylon 5.  A discussão acabou nos conduzindo naturalmente ao tópico sensível das alegações de existência da alma humana.  Marcus defendeu a tese de que o surgimento da mente não pode ser explicado através de meios puramente materiais, afirmando ser impossível reduzir a compreensão da mente humana à matéria.  Apesar de discordar dessa visão, suspeito fortemente de que avanços no desenvolvimento de inteligências e consciências artificiais nas próximas décadas e séculos lançarão fachos poderosos de luz nessa discussão.  Em tom de brincadeira, Carlos falou que iria nos apresentar ao Chat GPT.  Menos paciente com questões filosóficas a seu ver irrelevantes, Elache afirmou que a ciência moderna não deve perder tempo discussões não pertinentes como a da existência da alma humana.  À medida que a temperatura dos argumentos se elevou, Carlos disparou:

— Dioberto, Dioberto, viu o que você fez, né?  Olha no que você foi mexer.  Eu achei que essa live terminava antes da meia-noite, mas agora ela vai até às quatro da manhã...

Eventualmente, graças a outra pergunta da plateia, conseguimos voltar se não à Hipótese da Floresta Escura, ao menos à Questão de Fermi: qual seria a reação da humanidade à recepção de uma mensagem de origem comprovadamente alienígena?  Lembrei dos debates relativamente recentes dos astrobiólogos sobre o assunto e opinei que, a depender do seu teor, a mensagem poderia gerar um sentimento de inferioridade e depressão profunda na espécie humana.  Marcus lembrou que sempre haverá gente que não acreditará na origem alienígena da mensagem.  Elache opinou que o convencimento só seria universal caso se desse através de uma experiência semelhante à retratada no filme clássico, O Dia em que a Terra Parou (1951).

Em seguida, lembramos das diferenças entre o clímax e a resolução do romance de Carl Sagan, Contato (1985), e os do filme inspirado nesse livro.

Enfim, com quase três horas de live, Edgar nos convidou a confirmar nossas soluções favoritas à Questão de Fermi.  Da minha parte, defendi uma fusão de três soluções distintas: uma versão atenuada da Hipótese da Terra Rara mesclada com as soluções da Quarentena e da Duração Efêmera da vasta maioria das civilizações tecnológicas.

Em virtude da temática extremamente instigante, da participação entusiástica da plateia e do ritmo de bate-papo estabelecido entre nós cinco, essa foi uma das lives mais interessantes de que já participei.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 28 de julho de 2023 (sexta-feira).

 


Participantes:

Carlos Relva (participante).

Clinton Davisson.

Dioberto Souza.

Edgar Smaniotto (anfitrião).

Flávio Medeiros, Jr.

Gerson Lodi-Ribeiro (participante).

Hidemberg Alves da Frota.

J. Alexandre Freitas.

Marcus Valério XR (participante).

Paulo Elache Duarte (participante).

Rodrigo (Pais & Filhos Games).

Rubens Angelo.

Sidemar Castro.



[1]O Problema dos Três Corpos (2006); A Floresta Sombria (2008); e O Fim da Morte (2010).  Essas são as datas das publicações originais em mandarim.  Li as edições brasileiras dos três romances de enfiada em outubro de 2019.

[3].  Aliás, “Questão de Fermi” foi o título de um artigo de divulgação científica sobre o assunto, que escrevi em parceria com o amigo Ronaldo Fernandes, publicado mais de três décadas atrás na saudosa edição brasileira da Asimov’s: Isaac Asimov Magazine nº 9 (Record, 1990).

[4].  Nanorresenha extraída do meu bunker de dados: Where is Everybody? – Setenta e cinco soluções para a Questão de Fermi.  Análise lúcida da problemática SETI direcionada ao leigo inteligente.  Praticamente todas as soluções minimamente plausíveis estão aqui.  O autor apresenta conhecimento mais do que razoável da literatura de ficção científica.

[5].  O conceito de sondas berserkers se inspirou na saga Berserker, criada pelo autor estadunidense Fred Saberhagen e iniciada com o romance Brother Assassin (1969).  É de todo provável que esse universo ficcional tenha servido de fonte de inspiração aos criadores da franquia Battlestar Galactica (1978).  No âmbito dos debates da comunidade SETI (Search for ExtraTerrestrial Intelligence) sobre soluções possíveis à Questão de Fermi, o astrofísico e autor de ficção científica David Brin foi o primeiro a apresentar a Solução Berserker em seu artigo “The Great Silence: the Controversy Concerning Extraterrestrial Intelligent Life” (Setembro de 1983), in Quaterly Journal of the Royal Astronomical Society, 24: 283-309.

[6]Helliconia Spring (1982); Helliconia Summer (1983); e Helliconia Winter (1985).

[7].  Defesa brilhante da Teoria da Terra Rara, segundo a qual o surgimento de bactérias seria muito mais comum do que se pensa universo afora.  Porém, em contrapartida, o aparecimento de vida animal seria um evento muito mais raro do que até então se supôs. Isto porque a Terra – com sua Lua gigante, suas placas tectônicas e composição privilegiada – seria um planeta muito mais especial do que supunha nossa vã filosofia.  Leitura instigante, para mudar a cabeça dos propoentes mais otimistas do esforço SETI.

[8]Science, volume 143, nº 3608, 21 February, 769-775 (1964).

[9].  Nanorresenha: Devoradores de Estrelas (Suma dos Livros, 2022) – A partir da descoberta dos “astrofágicos”, microrganismos que estão consumindo a energia solar e ameaçando tornar a Terra inabitável, humanidade congrega esforços para enviar uma expedição estelar até Tau Ceti a fim de encontrar um predador hipotético dos astrofágicos, uma vez que aquela estrela era a única aparentemente imune à praga dos monstrinhos.  Weir intercala capítulos sobre o desenrolar da missão em Tau Ceti com outros que mostram a preparação da Missão Hail Mary na Terra. A missão só se torna factível com o emprego dos próprios astrofágicos como fonte de energia.  Uma vez em Tau Ceti, Ryland Grace se descobre amnésico e o único sobrevivente dentre os três tripulantes da Hail Mary.  Logo estabelece contato com Rocky, único sobrevivente de uma missão alienígena proveniente de 40 Eridani que também se dirigiu a Tau Ceti em busca de uma solução para a infecção dos astrofágicos.  Logo Grace e o aracnoide hiperbárico Rocky se tornam os melhores amigos de infância e estabelecem uma parceria profícua para tentar descobrir e capturar os predadores dos astrofágicos num planeta de Tau Ceti.

[10].  Essa série se iniciou com a publicação do artigo de título bombástico “Extraterrestrial Intelligent Beings Do Not Exist”, no prestigioso Quartely Journal of the Royal Astronomical Society, 21, 267-281 (1980).  Artigo já citado trinta e três anos atrás no ensaio “Questão de Fermi”, publicado na Isaac Asimov Magazine, referido anteriormente.