domingo, 13 de dezembro de 2009

Reunião da FC Carioca 2009-12

2009.1211.2359P6 — 18.053 D.V.



Sob pretexto algo óbvio de bebemorações paranatalinas, realizamos hoje à noite, em plena sexta-feira, mais uma das reuniões semiperiódicas da comunidade carioca de FC&F. Tratou-se de mais um evento no novo estabelecimento selecionado pelos alto hierarcas cariocas para as reuniões mais ou menos formais do nosso grupo, o Espaço Gourmet. Cheguei ao restaurante às 19:10h, meros dez minutinhos após o início dos trabalhos. Quando deixei o local por volta das 00:45h, o evento ainda ia de vento em popa.

Ao chegar ao local, lá já estavam Eduardo Torres, nosso Mr. President atual, e o tecnófilo Jorge Pereira. Embora Eduardo já houvesse aberto o serviço com um chope, incentivados pelo Jorge (o.k. que não precisamos lá de tanto incentivo assim...) pedimos a carta de vinhos do estabelecimento. Inadvertidamente, o garçom de plantão em nossa mesa trouxe duas taças de vinho suave em vez da carta que lhe fora solicitada. Taças recusadas com sorrisos e a carta acabou aparecendo nas mãos de um outro personagem: um sommelier-trainee, que se apresentou como Gaúcho. Munido de beneplácito presidencial, pedi um tinto uruguaio da Bodegas Pisano da linha Cisplatino, um corte de Tannat com Merlot. O vinho combinou muito bem com os queijos, frios e o carpaccio de que me servia.

Jorge e Edu perguntaram sobre meu romance de história alternativa, Xochiquetzal: uma Princesa Asteca entre os Incas, prestes a ser lançado pela Draco. Animado, expliquei-lhes o ponto de divergência e as nuances da narrativa de Dona Xochiquetzal da Gama. Aproveitei o ensejo para esclarecer a minipolêmica sobre o anacronismo do vinho do Porto que a protagonista bebe de em vez quando (ou de vez em muito).

Max Mallmann chegou dez ou quinze minutos depois, quando já comentávamos aquilo que iria dominar o bate-papo noite adentro: a quantidade enorme de livros de literatura fantástica brasileira lançada este ano. O gozado é que um ano atrás se dizia que 2008 seria ou teria sido o annus mirabilis da FCB, mas 2009 parece ter sido melhor ainda e estou com forte impressão de que 2010 será ainda melhor.

Nós quatro concordamos que está até difícil acompanhar tudo o que as editoras estão publicando nos últimos meses. De minha parte, elogiei bastante o primeiro romance de nosso amigo Fábio Fernandes, Os Dias da Peste (Tarja, 2009), uma tacada certeira da editora de Richard Diegues e Giampaolo Celli. O romance foi construído a partir da fusão e ampliação de duas noveletas “Um Diário dos Dias da Peste” e “Interface com o Vampiro”, ambas publicadas em na coletânea Interface com o Vampiro (Writers, 2000). Pretendo resenhar esse romance em breve.

Max nos presenteou com exemplares da antologia Galeria do Sobrenatural (Terracota, 2009), organizada pelo Sílvio Alexandre, na qual ele tem um conto, “Hábito Noturno”. Até agora só li dois contos dessa antologia bem acabada, não obstante as gralhas aqui e ali: o do Max e o “A Ponte” do Miguel Carqueija. Ambos me agradaram, sobretudo o do Max, mais contundente e de final menos previsível. Em suas 156 páginas, a antologia enfeixa dezoito contos e uma mini-HQ.

Pouco tempo mais tarde, chegou o Carlos Patati, acompanhado pela esposa e a filhinha que veio dormindo no carrinho de bebê. Contudo, a grande surpresa da noite foi o aparecimento da Ana Cristina. Após ter afirmado nas listas que não iria, ela foi recebida com grande alegria pelos presentes. Ao ser questionada, explicou que, como a comemoração natalina em que se encontrava lhe pareceu tediosa, ela deu uma escapada em direção ao Espaço Gourmet. Bela decisão!

Outro assunto que veio à baila foi a discussão recente na comunidade de FC do Orkut sobre uma resenha à antologia Steampunk (Tarja, 2009) que será publicada em breve por um crítico anglo-saxão. O motivo da celeuma foi que um sujeito chamado Eduardo insistia em bater na tecla gasta de que, por não ter o português como primeiro idioma, o crítico não seria capaz de produzir uma resenha pertinente. Por isto não, porque, ao que eu saiba, a brasilianista norte-americana especializada em FC brasileira, Libby Ginway, costuma apresentar críticas mais profundas e pertinentes do que onze de cada dez críticos brasileiros que militam em nosso gênero.

Edu pediu outra garrafa do Pisano Cisplatino, idêntica à anterior, já que aprováramos a primeira.

Por essa altura chegou Miguel Carqueija que, meio adoentado, permaneceu quase calado numa das extremidades da mesa durante o pouco tempo em que ficou conosco. Mesmo assim, logrou sortear dois livros e vender outros tantos. Os sorteados foram Patati e Eduardo. Aliás, por falar em doença, Raul Avelar também não pôde comparecer, pois iria se submeter a uma cirurgia de rotina.

Comentamos pormenorizadamente as duas temporadas da minissérie Roma, que todos gostamos bastante. Jorge inclusive confessou que possuía os dois boxes de DVD. Conversa vai, conversa vem, acabou batendo uma baita vontade de assistir as duas minisséries outra vez. Aproveitando o ensejo, Max nos falou um pouco sobre seu romance histórico que se passa no Império Romano do século I A.D., que sairá pela Rocco em março de 2010.

Quando tentamos pedir nossa terceira garrafa do uruguaio, o tal Gaúcho informou-nos que não havia mais. Após breve análise da carta de vinhos, talvez para se manter fiel aos hispânicos, Mr. President selecionou um Rioja de média extração (pois que os de alta costumam vir com preços proibitivos), faturado na comanda de nosso amigo Jorge. Um bom vinho, mas não tão bom quanto o Pisano.

Passei dos queijos & carpaccios à sobremesa, com direito a torta alemã e sorvete de chocolate, pois que era noite de festa. Como não cabia insistir no vinho, pedi uma dose de Cointreau. Como Ana Cris se interessou e sou como que tutor dela para assuntos de caráter etílico, ofereci-lhe uma dose. Foi só provar e se apaixonar. Quando seu marido, Estevão Ribeiro, chegou cerca de meia hora mais tarde, ela falou que eles precisaram comprar uma garrafa do licor. Depois que expliquei ao meu companheiro de clã que esposas amimadas com licores finos costumam se comportar de forma dócil e amorosa e, mais importante, no dia seguinte acordam satisfeitas e, melhor ainda (!), não se lembram de nada do que fizeram, ele concordou entusiasmado, ao que Ana, sempre esperta, aproveitou para pedir duas novas doses para nós.

Aliás, Eduardo elogiou bastante a novela autobiográfica do Estevão, Enquanto Ele Estava Morto (A1, 2009), onde o autor nos brinda com o relato impressionante da semana em que ele passou buscando o paradeiro de seu irmão mais velho, supostamente assassinado num garimpo da Bahia. É curioso, porque Edu repetiu quase que ipsis litteris os elogios que proferi ao autor em nossa última reunião.

Por conta da filhinha, Patati e a esposa foram os primeiros a deixar nosso ágape. Pouco mais tarde, Carqueija seguiu seu exemplo. Aproveitamos que estávamos praticamente em petit committee, para colocar as fofocas em dia. Comentei sobre o evento steampunk de que participei lá em Sampa semanas atrás e do lançamento da Imaginários (Draco, 2009), e ouvi bastante sobre as intrigas internéticas relatadas por Jorge e Ana. Fofoca vai, fofoca vem, ainda mais regada a cálices de Cointreau, acabamos só saindo de lá quase uma da matina. Quer dizer, o Jorge, o Edu e eu, porque a Ana, o Estevão e o Max permaneceram firmes e fortes para defender as honras da FC&F carioca.


Participantes:


Ana Cristina Rodrigues
Carlos Eugênio Patati
Eduardo Torres
Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Jorge Pereira
Max Mallmann
Miguel Carqueija

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Lançamento da IMAGINÁRIOS na Cultura do Market Place




Compareci no sábado passado às 16:00h na livraria Cultura do shopping Market Place em São Paulo para o lançamento da antologia Imaginários, organizada por Tibor Moricz, Eric Novello e Saint-Clair Stockler.

A Imaginários está organizada da forma seguinte:

Volume 1: “Coleira de Amor” (Gerson Lodi-Ribeiro); “Eu, a Sogra” (Giulia Moon); “Veio... novamente” (Jorge Luiz Calife); “A Encruzilhada” (Ana Lúcia Merege); “Por Toda a Eternidade” (Carlos Orsi); “Twist in my Sobriety” (Flávio Medeiros); “Um Toque do Real: Óleo sobre a Tela” (Roberto de Sousa Causo); “Alma” (Osíris Reis); “Contingência, ou Tô Pouco Ligando” (Martha Argel); “Tensão Superficial” (Davi M. Gonzáles); e “Planeta Incorruptível” (Richard Diegues).


Erick Santos e eu com as Imaginários.

Volume 2: “Se Acordar Antes de Morrer” (João Barreiros); “Às Vezes Eu os Vejo” (Saint-Clair Stockler); “Flor do Trovão” (Jorge Candeias); “O Toque Invisível” (Alexandre Heredia); “O Cheiro do Suor” (Eric Novello); “A Rosa Negra” (Sacha Ramos); “A Casa de um Homem” (Luís Filipe Silva); “Eu Te Amo, Papai” (Tibor Moricz); e “Uma Questão de Língua” (André Carneiro).

Cheguei ao Market Place às 14:00h e faminto, pois me recusei a tomar o café da manhã do Novotel Jaguará Convention Center, pelo módico preço de R$ 26,00 cobrado a parte da diária. Por isto, a primeira coisa que fiz foi rumar para a praça de alimentação mais próxima e me dirigir ao fast-food mexicano para me locupletar com um combo de burritos de pernil e fajitas. Coincidência ou não, essa refeição de lamber os beiços, incluindo as duas latas de diet-coke, custou os mesmos R$ 25,89, que paguei com prazer e um sentimento de vingança contra o Jaguará.

Da praça de alimentação segui até a filial da livraria Cultura, onde já havia lançado a Taikodom: Crônicas no primeiro semestre. Aproveitei o tempo livre para fuçar as estantes de ficção científica, horror e fantasia nacionais da livraria, sem comprar nada. Então passei as estantes de livros estrangeiros desses gêneros, com resultado idêntico. Saciado, passei no caixa e escalei um vendedor experiente para tentar encontrar o romance Os Dias da Peste, do Fábio Fernandes, recém-lançado pela Tarja Editorial. Após dez minutos de buscas infrutíferas, os últimos dos quais na presença do próprio Richard Diegues, um dos sócios da editora, eis que o livro enfim aparece não no setor de literatura fantástica, mas sim no de literatura brasileira.

Mal recebi o romance do Fábio e me deparo com Erick Santos, que acabava de chegar com a esposa Janaína. Subimos para o 2º piso da megastore e estacionamos junto à porta do auditório, ponto de encontro tácito dos autores e editores que participariam da mesa-redonda. Amigos e parentes do Erick apareceram para prestigiar o lançamento que, afinal de contas, representava o início das atividades da Editora Draco.

Ficamos papeando sobre enredos de ficção, filmes e sotaques enquanto aguardávamos a abertura das portas do auditório. Janaína nos deu a boa nova de que a Draco já fechou a distribuição de seus no Rio com a Livraria da Travessa.

Às 16:00h enfim ingressamos no auditório que, ao contrário de nossas expectativas, ainda não estava climatizado.

Ali reencontrei Antônio Luiz Costa, Martha Argel e Renata, esposa de meu amigo Carlos Orsi Martinho, que se encontra presentemente na Antártida, na base Comandante Ferraz, a convite da Marinha Brasileira. Ela já havia comprado o livro e não poderia ficar para assistir a mesa-redonda e só apareceu para me dar um abraço e pegar meu autógrafo.

No horário marcado, já com o ar-condicionado funcionando a pleno vapor e a lotação do auditório pela metade, Erick convidou os dois organizadores presentes, Tibor Moricz e Eric Novello (o terceiro organizador, o carioca Saint-Clair Stockler não compareceu), a subirem ao palco. Ao contrário do planejado inicialmente via e-mail, não subimos aos poucos, divididos em três grupos de três, mas os nove de uma vez, na seguinte ordem, da esquerda para a direita: Tibor Moricz; Eric Novello; Alexandre Heredia; Ana Lucia Merege; Richard Diegues; Gerson Lodi-Ribeiro; Martha Argel e Giulia Moon. O nono participante, Davi M. Gonzáles, não subiu ao palco, preferindo permanecer incógnito na plateia.


Erick propôs três perguntas bastante genéricas para os oito participantes da mesa-redonda versando, grosso modo, sobre: 1) estado da arte da literatura fantástica no Brasil; 2) oportunidades e dificuldades proporcionadas pela internet; e 3) influências de outras mídias na literatura. Começamos a responder a primeira pergunta da esquerda para a direita, iniciando com Tibor e terminando com a Giulia Moon. A segunda pergunta seguiu o percurso oposto e a última começou pelo meio, com Richard Diegues, seguiu para a esquerda até a Giulia e então retomou com a Ana Merege e seguiu para a direita até o Tibor. A dinâmica da mesa funcionou bem, nenhum dos participantes dominou demasiadamente o microfone e, de forma geral, rolou uma química legal entre nós oito. Os mais antigos e experientes rememoraram um pouco da história do gênero fantástico no Brasil, desde os tempos dos fanzines, das trocas de correspondência postal e dos primeiros clubes de fãs. Discutimos as diferenças e as semelhanças das formas narrativas das diferentes mídias e abordamos nossas experiências com a internet. A plateia mostrou-se ativa o tempo inteiro. Martha Argel lembrou das comunidades de fãs das antigas BBS. Giulia falou de sua inserção na literatura vampírica e de como ela e a Martha se conheceram. Ana Merege destacou a importância da literatura em geral sobre a literatura de gênero. Já eu destaquei justamente a literatura de gênero, apresentando um pequeno resumo de sua evolução recente no país. Tibor e Eric falaram um pouco sobre a organização da antologia em si. Sílvio Alexandre e Antônio Luiz fizeram pequenas intervenções pontuais ao longo do evento. Infelizmente, não houve tempo para as perguntas da plateia.




Aliás, lá pela hora da chegada do Sílvio, direto do outro lançamento da tarde, uma antologia de contos organizada pelo Roberto Causo para a Terracota, percebi que o auditório estava inteiramente repleto. De fato, ao que parece, nosso evento foi um sucesso de público. A Cultura realmente bombou!

Descemos do auditório para o andar térreo da livraria, onde se deu a sessão de autógrafos. A Draco providenciou crachás para os autores a fim de facilitar a vida dos fãs. Como só havia quatro poltronas, deixamos os assentos para a Martha, a Giulia e a Ana Lúcia. O vinho servido no coquetel patrocinado pela Cultura foi o branco Salton Volpi Chardonnay, que caiu como uma luva para a ocasião. Aliás, só se serviu vinho e água, nada de refrigerantes e muito menos salgadinhos ou canapés, atitude que considerei correta, praxe a ser copiada em próximos lançamentos. O bate-papo seguiu animado durante a sessão de autógrafos. Conversei principalmente com o Antônio Luiz, Tibor, Erick, Sílvio, Richard e o Douglas Comito, que compareceu no lançamento. Quase todos os livros que autografei foi para fãs que eu não conhecia, o que considerei um sinal excelente. Provavelmente tratavam-se de amigos e parentes dos autores paulistanos ou do editor Erick Santos.


Giulia, Martha e Ana Lúcia

Eu, Tibor, Richard e Erick trocamos experiências sobre o trabalho árduo e inglório de organizar antologias e editar livros. Foi uma espécie de sessão catártica de confidências, do tipo o outro lado do balcão, uma vez que nós quatro também somos autores de literatura fantástica, porém, como organizadores e editores já fomos obrigados a enfrentar os egos de nossos companheiros de vocação. Mais uma vez respondi à triste questão do motivo da Ano-Luz não ter dado certo.

Também na porta da Cultura, Erick finalmente distribuiu nossos exemplares da antologia e os autores ainda presentes aproveitaram para trocar autógrafos uns com os outros. Não duvido nada se alguns de nós acabaram levando para casa os livros trocados.

Após as despedidas, o casal Erick & Janaína deram carona para mim e para a Ana Lúcia Merege. Primeiro deixaríamos a Ana no Aeroporto de Congonhas e então seguiríamos para o Terminal Rodoviário Tietê. Durante a viagem para o aeroporto, descobri que a escritora de fantasia é filha do professor Policarpo, que lecionou português e literatura para a 1104, minha velha turma na antiga primeira série do segundo grau no Externato São José. Mundinho pequeno...

Deixamos a Ana no Congonhas e rumamos em direção à rodoviária. Como meu embarque se daria às 00:20h de domingo e ainda era 20:30h de sábado, o casal me convidou para jantar. Convite aceito, fomos para o Shopping Center Norte, situado em frente ao Terminal Rodoviário.


No todo, a missão dupla SteampunkImaginários à Sampa rendeu bons dividendos: conheci pessoalmente o casal de editores da Draco, estabeleci contatos produtivos com o pessoal do Conselho Steampunk, revi a Giseli Ramos e a Renata e ainda recebi dois convites para participar de projetos de divulgação do gênero fantástico no país.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, sábado, 28 de novembro de 2009.


Galera da Imaginários

Maratona Steampunk na Viriato Corrêa


Estive na noite e madrugada do sábado passado, 27/11, na Biblioteca Temática Viriato Corrêa (Rua Sena Madureira 298, Vila Mariana, São Paulo, SP) para participar da Fantástica Jornada Noite Adentro III, desta vez dedicada ao subgênero steampunk.

Encontrei minha amiga Giseli Ramos na estação de metrô Vila Mariana para comermos umas empadas antes de irmos para a Viriato Corrêa. Conforme prometido, as empadas eram mesmo gostosas. Pelo menos a empada de gorgonzola que comi estava deliciosa. Durante a refeição, Gi se dirigiu ao toalete para se compor a caráter para o evento performático de que participaríamos. O empenho e a preocupação dela eram tantos que comecei a ficar eu mesmo preocupado: afinal, não trouxera fantasia...

Regressando à Viriato Corrêa, encontramos o organizador Sílvio Alexandre, que nos cumprimentou efusivamente e nos colocou a par das últimas novidades do fandom paulistano.

Pouco depois chegaram Romeu Martins & Ludimila Hashimoto, Cristina Lasaitis e Camila Fernandes, ambas decididamente a caráter, e o editor da Tarja Gianpaolo Celli.

Romeu puxou um exemplar do Anno Dracula, romance emblemático de ficção alternativa recém-lançado em português numa edição primorosa da Aleph. Aproveitei para brincar com ele, afirmando que ele estava parecidíssimo com o Kim Newman, o autor do romance. Ele me perguntou sobre o lançamento de meu primeiro romance, Xochiquetzal e eu lhe falei que o livro deverá ser posto à venda ainda este ano, mas que, por questões de estratégia de mercado, a Draco decidiu só fazer o lançamento oficial em março de 2010.

Romeu questionou minha definição abrangente de steampunk, que inclui linhas históricas alternativas que abarcam avanços tecnológicos significativos a serviços de formações sociais arcaicas. Replicou que, por essa definição, minha noveleta “A Ética da Traição” também seria steampunk. Contra-argumentei que essa não era, mas que uma outra noveleta minha de história alternativa, “Assessor para Assuntos Fúnebres” podia ser enquadrada dentro do subgênero.

Após as tradicionais sessões de fotos, um must do evento graças à caracterização steampunk das meninas, entabulei um bate-papo com o Sílvio e o Gian sobre FC brasileira em geral, mas sobretudo sobre a antologia luso-brasileira Vaporpunk que estou organizando junto com o autor português Luís Filipe Silva. Adiantei que o livro sairá aqui no Brasil pela Draco e que provavelmente consistirá de oito trabalhos: cinco autores brasileiros e três portugueses. Sílvio veio com a ideia de lançarmos a antologia durante a Fantasticon 2010, que deverá se dar por volta de julho próximo.

Cristina, Mila Fernandes, Giseli, eu e Romeu Martins.

Quando eu e Gian papeávamos animados junto à mesa do café, o Sílvio convocou o público presente a ingressar no auditório para dar início a parte oficial do evento. Sentei na terceira fila. O auditório de cerca de cem poltronas estava com metade dos assentos ocupados.

Após o breve discurso de abertura bem-humorado da diretora da biblioteca pública, a atriz Cristiana Gimenes apresentou uma deliciosa leitura crítica com comentários sobre o romance vitoriano de Robert Louis Stevenson, O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde, delineando as nuances do caso de modo a iluminar as reais motivações de Henry Jekyll e tecer uma comparação, a posteriori óbvia, entre a compulsão do médico filantropo e humanitário com o vício em drogas.

Em seguida houve um desfile feminino em que as modelos (provavelmente amadoras, pois algumas possuíam corpos demasiado bonitos e nenhuma era raquítica como as profissionais) vestiam trajes vitorianos, algumas inclusive apenas de espartilhos e corpetes. Algumas das jovens armaram poses mais ou menos ousadas, enquanto outras simulavam timidez condizente ao que imaginamos para moças vitorianas. O desfile foi divertido e despertou a curiosidade do público presente.

Quando a apresentadora da leitura sobre a obra-prima de Stevenson voltou ao palco para uma nova apresentação, um jovem sentou-se ao meu lado esquerdo e se apresentou como sendo Erick Santos, o editor e publisher da Editora Draco, que está se lançando agora ao mercado e com o qual já troquei algumas centenas de e-mails, embora ainda não o conhecesse pessoalmente. Após cumprimentos efusivos de parte a parte, ele me presenteou com um exemplar de cada um dos dois volumes da antologia Imaginários, primeiro lançamento da Draco, que se dará oficialmente amanhã. Sob forma de pocket books, mas com acabamento rebuscado que inclui até orelhas, os dois volumes ficaram muito bonitos. Meu conto de FC hard “Coleira do Amor” abre o primeiro volume. Meus quatro amigos portugueses – Sacha Ramos; Jorge Candeias; Luís Filipe Silva e João Barreiros – aparecem no segundo volume.

Mais umas breves palavras da diretora da biblioteca e Sílvio Alexandre aparece no palco como moderador da mesa-redonda sobre steampunk para convocar os três participantes: eu como escritor desse subgênero e Carlos Felipe “Karl F.” e Bruno Accioly, membros do Conselho Steampunk. Contudo, como Bruno também viria do Rio e seu voo atrasou, Silvio escalou para compor a mesa Cândido Ruiz, outro membro paulistano do Conselho.

À semelhança de vários outros membros do Conselho Steampunk presentes na plateia, meus dois colegas de mesa estavam trajados a caráter.

Sob a moderação segura de Sílvio, a mesa-redonda transcorreu tranquila e animada. De minha parte, após me confessar um herege em relação aos cânones preceituados na Encyclopedia of Science Fiction, do John Clute e do Peter Nicholls, autêntica Bíblia do gênero, procurei conceituar o steampunk como subgênero da história alternativa e afirmar minha definição abrangente desse subgênero, posição que veio à luz justamente nas guidelines da Vaporpunk. Ao contrário, Caó e outros membros da plateia preferiram conceituar como steampunk trabalhos de ficção alternativa, como Anno Dracula e A Mão que Cria, de Octavio Aragão, talvez pela ambientação no todo ou em parte no século XIX ou o clima geral vitoriano. Aliás, a plateia mostrou-se bastante interessada, lançando perguntas e observações, em geral pertinentes, tanto durante as falas dos participantes da mesa quanto após o início oficial da sessão de perguntas.

Com o término da mesa-redonda, ainda ficamos batendo papo por cerca de dez minutos dentro do auditório, antes de partirmos para o coffee break lá fora. Erick Santos aproveitou o ensejo para me apresentar a esposa Janaína, que vem a ser filha do crítico de ficção científica, Antônio Luiz da Costa. Aproveitei para apresentar o casal ao Sílvio Alexandre. Eles se despediram, pois Janaína estava sonolenta, mas devemos nos encontrar amanhã.

No salão anexo ao auditório, dirigi-me ao stand de vendas improvisado no local para adquirir um exemplar da antologia Steampunk, organizada por Gian Celli pela Tarja. Um fã que se apresentou como Dalton afirmou ter lido e gostado muito da antologia Phantastica Brasiliana, que eu e Carlos Orsi Martinho organizamos em 2000 por nossa finada editora, Ano-Luz. Já leu alguns contos do Taikodom no site e perguntou pelos trabalhos inéditos publicados na Crônicas. Mostrou-se vivamente interessado em minha coletânea de história alternativa, Outros Brasis, publicada pela Mercuryo em 2006 e eu lhe expliquei porque já não é tão fácil conseguir exemplares desse livro.

Entabulei outro bate-papo com o Gian Celli e o Sílvio Alexandre, desta vez sobre evolução da linguagem narrativa por conta dos avanços tecnológicos, sobretudo o cinema e a internet. Trocamos experiências como editores com autores recalcitrantes de várias ordens e estirpes.


Herói steampunk em ação!

O táxi me trouxe de volta ao Jaraguá, onde cheguei por volta das 02:15h. Antes de dormir num ambiente climatizado em 18°C, babei as primeiras páginas do meu “Coleira do Amor” na Imaginários 1 e folheei a Steampunk da Tarja.

Hotel Jaraguá, São Paulo, sexta-feira, 27 de novembro de 2009.