terça-feira, 16 de agosto de 2011

Relatos Fragmentários
Da
Fantasticon 2011


               201108121534P6 — 18.662 D.V.



     “Graças a essa palestra, descobri o nome da minha fantasia sexual: xenofilia!”
    [jovem presente na plateia, no fim de minha palestra sobre sexo com alienígenas]


Hoje foi nosso primeiro e único dia de participação na Fantasticon 2011, pois no domingo, dia do encerramento, embarcaremos cedo para o Rio por conta do Dia dos Pais.

Saímos do hotel às 11:30h e tomamos o metrô da estação Paraíso até a estação Vila Mariana, de onde caminhamos a pé para a Biblioteca Municipal Viriato Corrêa, sede da Fantasticon 2011.  Ainda no metrô, liguei o celular e mandei um torpedo para o Erick Sama, para confirmar a presença dele no almoço conosco.

A primeira pessoa com que encontramos à porta da Viriato Corrêa foi o editor da Tarja, Richard Dieguez, em companhia da filhinha de ano e meio.  Ao ingressar na biblioteca procuramos logo o Sílvio Alexandre para confirmar nossa chegada, receber o kit de participante e guardar nossas pastas no almoxarifado da instituição.

Enquanto batíamos um papo com Estevão Ribeiro, que também veio do Rio para a Fantasticon, Erick apareceu para nos dar carona até a panquequeria onde havíamos combinado almoçar.  Conosco também seguiram a autora carioca Ana Lúcia Merege e Janaina Chervezan, esposa do Erick.  O Casal 20 da Draco revelou ainda estar sob efeito do jet lag devido ao regresso anteontem de sua estada de quase um mês no Japão.  Assim que saltamos do carro, enquanto aguardávamos o manobrista da panquequeria, pus minhas mãos ávidas em meu exemplar da Dieselpunk.  Livrão!  A maior antologia das cinco que já organizei, superando até mesmo a Como Era Gostosa a Minha Alienígena! (Ano-Luz, 2002).

Mal chegamos ao restaurante e aparece nosso amigo mineiro, Flávio “Garfield” Medeiros, diretamente de Belo Horizonte.  Pouco mais tarde chegariam Edgar “Garapa” Refinetti; o casal Hugo & Renata Vera; Larissa Caruso; e Marcelo Galvão.

O almoço transcorreu animado com altos papos sobre lançamentos presentes e futuro do mercado editorial do fantástico brasileiro.  Pedi mais uma vez perdão ao Flávio por não ter incluído sua bela noveleta de história alternativa na antologia Dieselpunk (Draco, 2011), que seria lançada durante a Fantasticon.  Foi triste rejeitar uma história tão boa, mais interessante e mais bem escrita do que alguns trabalhos aceitos para a antologia, tão somente pelo fato de não se enquadrar inteiramente na temática proposta.  De todo modo, ainda pretendo publicar esse trabalho de alta qualidade em algum projeto futuro.

Por falar em projetos futuros, Flávio falou de seu projeto de montar um romance fix-up com noveletas escritas em seu U.F. de ficção alternativa que propõe a sobrevivência da civilização asteca como vassala do Império Britânico, linha alternativa que já gerou noveletas publicadas nas antologias Steampunk (Tarja, 2009) e Vaporpunk (Draco, 2010).  Flávio me convidou a prefaciar esse romance, convite aceito com imediato entusiasmo.

Almoço na Panquequeria.

Aliás, elogiamos o romance do Flávio, Casas de Vampiros (Tarja, 2010), que adota uma abordagem original para a temática dos vampiros e oferece uma explicação científica para a origem desses monstros.  Estranhamos que o livro tenha recebido tão pouca divulgação e esteja sendo tão pouco comentado.

Sondei o Hugo Vera sob a possibilidade de participar da antologia Space-Opera II, mas ele e Erick afirmaram que, para segunda investida sobre o tema, pretendem renovar a tripulação da nave estelar.  À guisa de prêmio de consolação, acenaram com o convite para prefaciar a antologia, convite aceito com imediata resignação.

Pedi um fettuchini à parisiense e Cláudia um salmão com legumes.  Contamos para os amigos o episódio das barrigas das sardinhas pelo qual passamos durante um jantar com figuras ilustres da ficção científica portuguesa, em nossa estada em Lisboa em julho de 1997.

Durante o almoço em si, debatemos as qualidades intrínsecas e as falhas de consistência dos romances Crônicas de Gelo e Fogo, do George R.R. Martin e da série baseada no primeiro romance.  Além disso, discutimos a qualidade literária dos textos de Cirilo Lemos, autor de “Auto do Extermínio” na Dieselpunk.

Antologia de História Alternativa.


De volta à Viriato Corrêa, eu, Cláudia e Janaína estabelecemos um perímetro defensivo sobre a última vaga do estacionamento, enquanto Erick trazia seu carro às pressas para ocupá-la.  Operação concluída com êxito.  Enquanto cumpríamos essa nobre missão, estabelecemos contato com tropas aliadas, ali representadas pelos autores da Dieselpunk, Tibor Moricz (“Grande G”) e Carlos Orsi Martinho (“A Fúria do Escorpião Azul”), esse último, acompanhado pela bela e inteligente esposa Renata Corte.  Os dois autores estenderam mãos igualmente ávidas para receber seus exemplares da antologia das mãos do publisher da Draco.

Nobre missão de segurar a vaga...


Enfim adentramos no saguão principal da biblioteca, então apinhado de fãs, autores, editores das mais diversas manifestações do fantástico lusófono.  Tentamos comprar livros nos estandes da Moonshadows, mas estava impraticável.  Terei que contatar a sempre simpática Michelle para encomendar o que quero por e-mail.  Só logrei adquirir o Livro dos Gatos do Estevão Ribeiro e, mesmo assim, apenas graças aos bons préstimos de minha amiga Ana Cristina Rodrigues, esposa do autor.  A maior lástima foi ter deixado para trás os romances do grande autor português de ficção científica João Barreiros e da autora paulistana de fantasia Camila Fernandes.

Autógrafo de Xochiquetzal, para Gi Ramos.

Único livro que consegui comprar na Fantasticon! :-(

Após dezenas de e-mails trocados nos últimos meses, por conta da submissão de contos à Dieselpunk, logrei conhecer pessoalmente Sid Castro, autor da noveleta “Cobra de Fogo” selecionada para a antologia.

Também conheci pessoalmente a autora Alícia Azevedo, que está organizando, junto com Daniel Borba, a antologia 2013: Ano Um, para a qual devo submeter um conto de FC pós-apocalíptica em breve.

Outra grata surpresa foi reencontrar com meus grandes amigos e antigos parceiros da equipe da gerência de universo ficcional do Taikodom, Roctavio de Castro e Giseli Ramos.  Tive oportunidade de papear bastante com os dois.  Não tanto quanto queria, mas o suficiente para matar parte das saudades dos tempos em que trabalhávamos juntos.

Trio da antiga equipe do U.F. Taikodom: Giseli Ramos, Roctavio de Castro e eu.

Também conversei com os velhos amigos e ex-sócios dos tempos de Ano-Luz, Marcello Simão Branco e César R.T. Silva.  Marcello perguntou pelos filhos e se surpreendeu que Erich agora trabalha como assistente de câmera na Rede Globo.  É, o tempo passa...

Em meio aos bate-papos animados com Alfredo Suppia, Carlos Alberto Machado[1], Roctavio de Castro e a sessão de autógrafos da antologia Space-Opera (Draco, 2011)[2], acabei não logrando assistir a palestra “Literatura Fantástica: a Experiência Mexicana”, proferida por Miguel Ángel Fernandez, único convidado internacional da Fantasticon 2011.  A fala de Fernandez recebeu tradução simultânea da autora brasileira de fantasia vampírica, Martha Argel.  O palestrante mexicano também é o organizador de Visiones Periféricas, antologia de ficção científica premiada em seu país.

Autógrafos Space-Opera 1: com Sílvio Alexandre, Senhor Fantástico.

Autógrafos Space-Opera 2: com Flávio Medeiros e Antonio Luiz da Costa.

Aliás, o comparecimento a uma convenção de fantástico brasileiro do porte da Fantasticon — que vem se tornando mais robusta a cada ano que se passa — constitui uma maratona que mistura doses iguais de prazer e tortura.  Pois é impossível, sobretudo quando só é possível comparecer num único dia, estar em todos os lugares ao mesmo tempo: assistir a todas as palestras e mesas-redondas, conversar com todos os amigos, autores, editores e fãs, comprar todos os livros interessantes.  Cumpre fazer uma série de escolhas de Sofia, entre um bate-papo revelador com um grande amigo que você não vê há anos e assistir uma palestra de um autor brilhante que fala ali pela primeira vez.  Ao fim do dia, você sai da Viriato Corrêa exausto, feliz, culpado & insatisfeito, não necessariamente nesta ordem.J

Cláudia & Eu.

Pelo menos consegui assistir a concorrida mesa-redonda “História, Matéria-Prima da Literatura Fantástica”, compartilhada com o auditório repleto pelos escritores Ana Cristina Rodrigues, Christopher Kastensmidt, Max Mallmann e Roberto de Sousa Causo.  Kastensmidt é um autor norte-americano radicado em Porto Alegre.  A mesa-redonda tratou da presença crescente da história alternativa, da fantasia histórica e do steampunk na literatura fantástica brasileira.  Max Mallmann discorreu sobre o trabalho de pesquisa que propiciou seu belo romance histórico ambientado em Roma Antiga, Centésimo em Roma, abordando, inclusive, o emprego impagável de um Homo floresiensis como personagem.

Mesa-Redonda História na Literatura Fantástica:
Max Mallmann, Ana Cristina Rodrigues, Christopher Kastensmidt e Roberto de Sousa Causo.


Ao término da mesa-redonda, fui contatado por Clarissa, membro da equipe da biblioteca, para que lhe passasse o pen-drive com o arquivo em PowerPoint com minha palestra “Alien Sex — Guia de Sexo Terrestre para a Alienígena Solteira”.  Para minha alegria, ao contrário do que se deu no ano passado, desta feita o sistema de datashow da Viriato Corrêa funcionou direitinho.  Telão ativado, proferi minha fala de uma das extremidades do auditório, de pé e microfone sem fio em punho.

Romance de FC Erótica: Sexo com Alienígenas.


Com auxílio desse tema genuinamente palpitante, logrei obter uma boa interação com a plateia de cerca de cinquenta ou sessenta pessoas.  Preparei uma apresentação recheada de brincadeiras que caíram no gosto do público presente.  Os autores abordados foram dos clássicos André Carneiro, Dinah Silveira de Queiroz, Fausto Cunha, Fritz Leiber, Harlan Ellison, Larry Niven, Philip José Farmer, Robert Silverberg e Ursula K. Le Guin, até os modernos Adriana Simon, David Brin, Eleanor Arnason, Fábio Fernandes, Gardner Dozois, Gerson Lodi-Ribeiro, Harry Harrison, James Tiptree, Jr., Michael Bishop, Octavia Butler e Robert Sawyer.  Os tipos de envolvimento entre humanos e extra-humanos foram do platonismo mais casto até o explícito X-Rated com paradas em todas as estações intermediárias.  Os parceiros extra-humanos foram ora alienígenas propriamente ditos, ora terrígenas, isto é, criaturas racionais que evoluíram na biosfera terrestre.  As mídias abordadas foram sobretudo a literária e a audiovisual, com pinceladas ocasionais nas HQs.  Os tópicos prediletos do público foram as brincadeiras com Kirk & Spock; os híbridos resultantes dos acasalamentos de tigres e leões; as consequências da concretização da paixão entre Lois Lane e o Super-Homem pelas ópticas de Larry Niven e Fábio Fernandes; o magnífico romance de ficção científica antropológica Ring of Swords, da Eleanor Arnason; e as belas trilogias Xenogenesis, da Octavia E. Butler e The Neanderthal Parallax, do Robert J. Sawyer.  Apesar das preocupações cronométricas do Sílvio Alexandre, ainda houve tempo para anunciar as antologias Erotica Phantastica (para a qual incitei os autores a escrever e submeter seus contos para apreciação) e Solarpunk.

Alien Sex: "Eles Herdarão a Terra", de Dinah Silveira de Queiroz.

Alien Sex: "Última Estrela", de Fausto Cunha.

Alien Sex: "Man of Steel, Woman of Kleenex", de Larry Niven &
"Paixão Segundo S.H.", de Fábio Fernandes.

Alien Sex: Plateia divertida.

 Ao fim da palestra fui brindado com o comentário entusiasmado de uma ouvinte:

— Beleza!  Graças ao que ele falou, descobri o nome da minha fantasia sexual: xenofilia.  Vivo sonhando com ETs fortões e sensuais me agarrando...

Por outro lado, não houve tempo para perguntas da plateia, pois eu estava escalado para dar autógrafos individuais.  Portanto, finda a palestra, fui conduzido ao salão de eventos da biblioteca e me sentei ao lado do autor Marcelo Paschoalin e, entre um autógrafo e outro, papeamos sobre agruras & aventuras de se escrever uma antologia de literatura fantástica no Brasil.  Autografei Xochiquetzal: uma Princesa Asteca entre os Incas para Giseli Ramos, Guardiã da Memória para Roctavio de Castro, além de alguns Vaporpunk e uma pá de Dieselpunk, dentre os quais um exemplar para o autor Josué de Oliveira, que tive oportunidade de conhecer pessoalmente nesta Fantasticon.

Autógrafo para Flávio Medeiros sob olhar de Rafael "Lupo".

Após as sessões individuais de autógrafos, os organizadores da Fantasticon julgaram por bem encerrar os trabalhos neste que foi o segundo dia de convenção na temporada de 2011.

Apesar das experiências pouco agradáveis do ano passado, nossa vasta comitiva acabou trombando com aquele mesmo restaurante fraquinho, fraquinho em que comemos e bebemos na noite de sábado da Fantasticon 2010, estabelecimento que passava bem longe da minha ideia de fechar com chave de ouro esta experiência paulistana memorável centrada na melhor convenção de arte fantástica que já tive oportunidade de comparecer.

Quando chegamos ao tal boteco, já haviam por lá cerca de doze ou quinze participantes da Fantasticon.  Conosco vieram mais uns dez e, pouco mais tarde, chegaram mais cerca de vinte pessoas.  Senti que a situação fugia do controle quando percebi que, independentemente do número de mesas e cadeiras que os garçons colocavam na calçada, cada vez mais distantes do estabelecimento propriamente dito, havia cada vez mais pessoas de pé à espera de um lugar.  Ao notar que não conseguiria sentar junto com meus amigos mais chegados e, se duvidar, nem sequer junto com a Cláudia, lancei a proposta de procurar outro estabelecimento ou, miseravelmente, outra mesa, instalada no interior do boteco.  A segunda ideia soou mais exequível ao casal Carlos Orsi & Renata Martinho, ao Flávio Medeiros, ao Roctavio de Castro e à Giseli Ramos.  Portanto, migramos para quatro mesas juntadas no interior do estabelecimento, onde recebemos a adesão posterior do pesquisador de ficção científica cinematográfica Alfredo Suppia e do antologista mexicano Miguel Ángel Fernandez.  Ao longo da noitada, recebemos aparições esporádicas de Erick Sama, Janaína Chervezan, Ana Cris, Estevão Ribeiro e Max Mallmann em nossa cadeira do amigo querido visitante, deixada vaga para receber os amigos que preferiram permanecer a longa mesa original.

Birosca 1: eu, Ana Cris, Roctavio de Castro, Alfredo Suppia e Miguel Ángel Fernandez.

Birosca 2: Fernandez, Cláudia Lodi, Gi Ramos, Flávio, Renata & Carlos Martinho,
Erick Sama & Janaína Chervezan, eu, Max Mallmann, Roctavio e Alfredo.


Em meio a espetinhos de queijo coalho, churrasquinhos, linguiças apimentadas, corações de frango, capivodkas, cocas zero e muita cerveja, tivemos uma das confraternizações mais animadas dos últimos tempos.

Nos aftershocks da minha palestra lá na birosca, para alegrar Ana Cris, que se lamentava por ter perdido minha palestra por ter sido escalada para autografar livros no mesmo horário, contei-lhe a cena tórrida de abertura do romance erótico Blown, do Philip José Farmer.  Carlos Orsi Martinho lembrou que os dois romances pornográficos (The Image of the Beast e Blown) foram publicados pela Playboy Books.  Também recordou que Farmer escreveu um terceiro romance naquele mesmo universo ficcional, só que despido(!) de elementos eróticos.

Roctavio elogiou mais uma vez a monografia Vinho no Mundo Romano que escrevi para a pós-graduação em Vinho & Cultura na Universidade Cândido Mendes.  Comentou que o texto está tão bom que nem parece uma monografia acadêmica...J

Aproveitando o mote de Fernandez ter me pedido para explicar as diferenças entre steampunk e dieselpunk, descrevi para ele, o Roctavio e o Suppia, o enredo da novela “Unidade em Chamas”, de Jorge Candeias, publicada na Vaporpunk (Draco, 2010), com ênfase na questão patriótica e racial desse trabalho que considero um clássico da história alternativa lusófona.

Alfredo Suppia nos falou dos planos futuros para seu periódico acadêmico digital, Zanzalá, e da possibilidade de trazer a convenção anual de 2015 da Science Fiction Research Association para o Brasil.  Preferencialmente para São Paulo ou Rio de Janeiro.

Quando Max Mallmann visitou nossa mesa contei para os amigos sobre a ocasião, no dia seguinte do lançamento de seu Centésimo em Roma, disparei SMS para os amigos da Praia das Conchas, em Cabo Frio, em plena Região dos Lagos, Rio de Janeiro, para comentar que já estava degustando o romance em companhia de um copo de capivodka geladinha.  Nem é preciso falar da quantidade de réplicas iradas & invejosas que torpedearam meu celular nos minutos e horas seguintes...

Se durante o almoço, Flávio “Garfield” Medeiros já havia confessado sua fraqueza por ovos de Páscoa, nessa confraternização pós-Fantasticon, revelou ser um viciado em memorabilia de ficção científica, horror e fantasia.  Falou que durante sua lua de mel em Nova York, chegou a sofrer ameaça de anulação de casamento em virtude da insistência em trazer para o Brasil um boneco do Darth Vader em tamanho natural.  Felizmente, a situação se resolveu quando nosso herói se apaixonou por um Yoda capaz de falar cerca de quinhentas frases em inglês.  Após hesitar durante toda a estada na metrópole norte-americana, no dia do regresso, ele despertou decidido e, numa atitude macho-mineira, virou-se para a esposa e afirmou:

— Eu vou comprar o Yoda!

Ao que a mulher amada replicou:

— É.  Eu também gostei do Yoda.

E os três pombinhos foram felizes para sempre.

*     *     *

Outro lance impagável do Garfield nesta noite memorável foi sua súbita e abrupta conversão no mais novo torcedor fanático do Botafogo.

Falei que estávamos numa birosca, é fato.  Mas tratava-se de uma birosca chique.  Tanto é que havia uma televisão de plasma enorme bem atrás de nossa mesa.  No telão passava ao vivo a grande peleja futebolística Botafogo x América Mineiro, um dos lanterninhas do Brasileirão.  Flávio afirmou que torceria pelo América, segundo time do coração de todo mineiro.  Além do mais, pontificou, o Botafogo possui uniforme bastante parecido com o do Atlético Mineiro, arquirrival do Cruzeiro, time pelo qual nosso amigo mineiro morre de paixão.  Pelo visto, Garfield é pé-quente, pois, com pouco mais de dez minutos de jogo, o América abriu 2 x 0 no placar.  Alarmado, decidi cooptar os poderes de Garfield para uma causa nobre:

— Amigo, Garfield, lembra daquele projeto de antologia?  Aquele que eu te falei que sua noveleta de história alternativa já estava praticamente incluída?

— Claro, Véio!

— Pois é.  A combinação só continua valendo se o Botafogo ganhar essa partida...

— Pô, mas assim não vale!  Teu time já está perdendo de 2 x 0...

— Pois é.  E de quem é a culpa?

Garfield engoliu em seco.  Pensou e pensou.  Concentrou-se, conjurando seus poderes para o bem.  Começou a torcer para o Botafogo.  No início, timidamente.  Depois foi se empolgado.  Minutos mais tarde, estava aos brados:

— Fogo!

— É Fogão. — Cláudia esclareceu, divertida.

— Fogão!

Ainda no primeiro tempo, o Botafogo diminuiu para 2 x 1.

Na etapa final, o Fogão veio com tudo.  Meteu três gols no América!  Depois de gritar o tempo inteiro, Garfield estava rouco, mas seus olhos brilhavam de contentamento.  Placar final: Botafogo 4 x 2 América Mineiro.

Impressionado, o gerente do barzinho murmurou ao meu ouvido:

— Puxa, esse amigo de vocês é botafoguense fanático, heim?

— Não é que ele seja botafoguense. — Expliquei. — Mas, você não sabe do que um escritor é capaz para ver seu texto publicado...

Ante o ar céptico do gerente, arrematei:

— Isto mesmo!  Até isto que você está pensando!

Ao que Max Mallmann confirmou:

— É.  Dependendo da tiragem...

*     *     *



Após a noitada memorável, despedimo-nos pesarosos dos amigos, pelo fato de que para nós a Fantasticon 2011 acabava ali, amanhã cedo embarcaremos para o Rio por conta do Dia dos Pais.  Abraços, beijos e juras de amor e amizade eterna trocados, dividimos um táxi com o casal Carlos Orsi e Renata Corte Martinho, já que eles estão hospedados no Mercure, cerca de cinquenta metros do Formule 1.  Aproveitamos e papeamos sobre o que andamos fazendo em nossas vidas profissionais e nós os lembramos de que eles não aparecem no Rio há tempos.

Ao que eu saiba, esta Fantasticon 2011 teve uma presença recorde de cariocas nativos ou radicados: eu & Cláudia, Ana Cris & Estevão, Ricardo França, Rafael Lupo, Max Mallmann e Ana Merege, fora aqueles que meus neurônios esgotados falharam em registrar.

Formule 1 Paraíso, São Paulo, 13 de agosto de 2011 (sábado).


Participantes:
Adriano Siqueira
Alexandre Heredia
Alícia Azevedo
Alfredo Suppia (Zanzalá)
Aliah
Ana Carolina Silveira
Ana Cristina Rodrigues
Ana Lúcia Merege
Antonio Luiz da Costa
Bruna Caroline
Camila Fernandes
Cândido Ruiz (Conselho Steampunk)
Carlos Alberto Machado
Carlos Orsi Martinho
Carol Chiovatto
César R.T. Silva (Anuário)
Christopher Kastensmidt
Cláudia Quevedo Lodi
Cláudio Villa
Cristina Lasaitis
Douglas MCT
Edgar “Garapa” Refinetti
Erick Sama (Draco)
Eric Novello
Estevão Ribeiro
Flávio “Garfield” Medeiros
Gerson Lodi-Ribeiro
Ghad Arddhu
Gianpaollo Celli (Tarja)
Giseli Ramos
Giulia Moon
Gumercindo Rocha Dorea
Hugo Vera
Janaína Chervezan (Draco)
José Roberto Vieira
Josué de Oliveira
Larissa Caruso
Lucas Rocha
Marcello Simão Branco (Anuário)
Marcelo D. Amado
Marcelo Galvão
Marcelo Paschoalin
Márcia Olivieri
Martha Argel
Max Mallmann
Michele (Moonshadows)
Miguel Ángel Fernández (MÉXICO)
Nelson de Oliveira
Rafael Lupo Monteiro
Renata Corte Martinho
Renata Vera
Ricardo França
Richard Dieguez (Tarja)
Rober Pinheiro
Roberto de Souza Causo
Roctavio de Castro
Sergio Roberto Lins da Costa
Sid Castro
Sílvio Alexandre
Tibor Moricz




[1].  Falei com o Carlos sobre a novela “Pinocchio” do Walter Jon Williams que li na antologia The Starry Rift, organizada pelo Jonathan Strahan.  Carlos Machado está interessado em FC que retratem a sala de aula do futuro.  Daí, eu lhe ter recomendado essa novela.
[2].  Onde tive a rara oportunidade de reencontrei Sergio Lins da Costa, um velho amigo do CLFC paulistano que eu já não via há muitos anos.