terça-feira, 30 de outubro de 2012

JediCon 2012 no Planetário da Gávea


Jedicon 2012 no planetário da gávea

 

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“Star Wars é space-opera em grande escala.”
[Brian Aldiss, in Trillion Year: the History of Science Fiction]

 

Depois de um lauto almoço de sábado com tudo a que se tem direito, tomei um táxi aqui de casa e em menos de cinco minutos desembarcava no portão lateral do Planetário da Gávea, para participar da mesa-redonda “Space-Opera na Literatura Fantástica”, um dos muitos eventos da JediCon 2012, em comemoração ao trigésimo quinto aniversário do lançamento do Star Wars original.

Meus parceiros de mesa seriam Clinton Davisson, atual presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica (CLFC) e Hugo Vera, coorganizador das antologias Space Opera I (Draco, 2011) e Space Opera II (Draco, 2012).  Por motivos de foro íntimo, Hugo não pôde comparecer ao Rio neste fim de semana, mas foi substituído condignamente pela autora e editora Ana Cristina Rodrigues que, além de falar muito bem, é consideravelmente mais bonita do que o Huguinho.

 

*     *      *

 

Pouco antes do almoço, por volta das 13h30, Clinton ligou para informar que nossa mesa-redonda teria sido antecipada do horário previsto das 17h00 para às 14h15.  Como ainda não tomara banho e tampouco almoçara, falei que devia chegar “um pouquinho” atrasado.  Felizmente, minutos mais tarde, nosso presidente voltou a ligar para corrigir: a mesa fora antecipada das 17h00 para às 16h15, mais factível, portanto.

Quando cheguei ao Planetário às 16h10, até o motorista do táxi se assustou com o tamanho da fila de entrada.  Receei chegar atrasado ao auditório, porém, quando informei às mocinhas do controle de acesso que fazia parte da próxima mesa, elas me deixaram entrar direto e ainda coletaram meu quilograma de açúcar refinado, pois o ingresso para o evento era um quilo de alimento não perecível.

Subi ao segundo andar, onde Clinton e Ana Cris já aguardavam o término da mesa anterior junto à porta do Auditório Sergio Menges.  Comentei com eles que Menges fora meu professor no primeiro período do curso de graduação em Astronomia no Observatório do Valongo (UFRJ) quase trinta anos atrás.  O tempo passa...
 
Miguel e Ana Cristina Rodrigues na entrada do Planetário.

Reinava um calor intenso no Planetário e a situação não estava melhor no auditório.

Iniciamos nossa mesa-redonda mais ou menos no horário.  Após nossa apresentação à plateia pelo mestre-de-cerimônias do evento, demos início aos trabalhos.

Após um introito breve, Clinton me passou o microfone.  Daí, procurei esclarecer a origem histórica do termo “space opera” e conceituar os elementos principais que caracterizam os enredos desse subgênero da ficção científica, ou seja, trama melodramática repleta de ação e aventura, envolvendo conflitos interplanetários ou interestelares, onde o herói salva — praticamente sozinho — a galáxia ou, pelo menos, o Sistema Solar, das garras de vilões humanos ou alienígenas, preocupando-se ainda em salvar a mocinha bonita, mas em geral descerebrada.  Falei ainda que em sua, versão “puro-sangue”, o subgênero perdeu boa parte de seu encanto no início da década de 1940, quando a ficção científica literária efetuou um salto quântico de qualidade, quando seus enredos se aprimoraram e seus personagens se tornaram mais profundos e complexos.  Comentei também sobre a apropriação dos temas outrora restritos à space-opera por parte da ficção científica mais madura, citando como exemplo o emprego da temática do império galáctico por Isaac Asimov em Fundação.  Finalmente, encerrei falando um pouco do movimento new space opera que resgatou os elementos arquetípicos do subgênero original, travestindo-os com roupagens e aparatos da ficção científica hard.

Então passei a palavra à Ana Cristina que varreu as ocorrências de enredos de space-opera no cinema e na televisão, de Guerra nas Estrelas até Battlestar Galactica, passando por Inimigo Meu e V, a Vitória Final.  Discutimos a relativa raridade das adaptações cinematográficas de clássicos da space opera e, incrivelmente ou, quiçá, piedosamente, esquecemos de falar do Flash Gordon.

Clinton trouxe a bola para o mundo lusófono ao mencionar as antologias Space Opera da Draco, lembrando que a maioria dos enredos presentes nos dois volumes não constituem space-operas stricto sensu, mas antes lato sensu.  Aliás, eu me atreveria a dizer que os três ou quatro trabalhos de que mais gostei nos dois livros foram justamente aqueles que lograram transcender os limites estilísticos da space-opera.

Já na fase de bate-papo com a plateia, falamos um pouco das dificuldades de distinguir trabalhos de (new) space opera de outros que exibem alguns poucos elementos do subgênero sem constituírem space-operas legítimos.  Respondemos perguntas que versaram de zumbis ao filme Distrito 9 que, enfim, não é space-opera.  Aproveitamos o ensejo para falar da antologia Space Opera III, que se encontra presentemente com submissão aberta aos trabalhos de autores novos e veteranos.

Encerrada a mesa-redonda, saímos do auditório e encontramos os fãs do universo ficcional Taikodom, Alberto Oliveira e Glauco Morais, que já haviam comparecido no lançamento carioca da Space Opera I no ano passado na livraria Blooks.  Encontramos também Mariana Gouvin e Regina Jan, e ainda travamos contato com Sander Souza, que compareceu ao evento acompanhado da esposa e da filhinha.  Ana Cris resgatou o filho Miguel das garras dos stormtroopers de plantão (na verdade, o garoto estava dando uma canseira terrível aos valentes soldados do Império...).  Antes de nos dispersarmos, ficamos de papo por cerca de uma hora nos jardins do Planetário.  Dali, Ana Cris e Miguel foram para um aniversário infantil em Niterói, Sander e família rumaram para a Ilha do Governador, enquanto os seis remanescentes caminharam até a Praça Santos Dumont para um galeto com coca-cola de fim de tarde no Braseiro da Gávea.  Como esse estabelecimento estava literalmente botando gente calçada afora, adotamos o plano B, que, àquele continuum espaçotemporal, significava o Hipódromo Um, restaurante de características análogas situado em frente ao Braseiro.
 
Glauco Morais, Ana Cris, Alberto Oliveira e Clinton Davisson
no Jardim do Planetário da Gávea.
 
Miguel, Ana Cris, Alberto, GL-R, Clinton e Sander Souza.

Alegres por estarmos finalmente num ambiente climatizado, pedimos nossas cocas e linguiças no espeto enquanto detalhávamos os processos de seleção para as antologias Brasil Fantástico e Solarpunk, organizadas, respectivamente, pelo Clinton e por mim.  Esse assunto veio à baila naturalmente, uma vez que alguns dos presentes haviam submetido trabalhos aos projetos referidos.  Falamos de submissões que abordam ideias instigantes e originais num texto desleixado e mal escrito.  Alguns exemplos emblemáticos foram citados.  Naturalmente, os nomes dos perpetradores não serão declinados aqui.

Dali o papo descambou para estratégias de análise de material original em termos de ficção curta, eleições municipais e questões políticas e administrativas do CLFC em suas diversas gestões.

Por volta das 19h30, saímos do restaurante e cruzamos a Santos Dumont rumo ao ponto de ônibus onde nos separaríamos.  Tomei o coletivo junto com Clinton, Mariana e Regina, mas saltei em meu quarteirão dois pontos mais tarde.  Ah, as vantagens de uma convenção pertinho de casa...

Mais um evento de ficção científica que valeu como pretexto para rever os amigos e colocar os bate-papos em dia.  Não sei quanto aos outros participantes, mas eu estava precisando.J

 

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 27 de outubro de 2012 (sábado).

 


Participantes:

Alberto Oliveira
Ana Cristina Rodrigues
Clinton Davisson
Gerson Lodi-Ribeiro
Glauco Morais
Mariana Gouvin
Miguel Rodrigues
Regina Jan
Sander Souza