sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Noite Abstêmia no Estação Gourmet


Noite abstêmia no estação gourmet

 

201211232359P3 — 19.137 D.V.

 
“War is hell.”
[William T. Sherman]

 

Deu-se hoje à noite mais uma das bebemorações periódicas do grupo de amigos da comunidade de literatura fantástica carioca e afins, congregada como de costume no espaço gastronômico da Estação Gourmet, sob pretexto de colocar as conversas em dia.

Do meu ponto de vista, a parte das bebemorações não rolou, pois já havia jantado com a Cláudia em casa, mas a parte de colocar o papo em dia foi muito boa.

*     *      *

 

Quando cheguei ao restaurante já estavam lá Ana Cristina Rodrigues, Jorge Pereira, Max Mallmann, Carlos Eugênio Patati e Luiz Felipe Vasques.

Para começar, mostrei aos amigos o livro Nós, Ciborgues, que Fátima Regis lançou na semana passada na Blooks.  Aproveitei o ensejo e mostrei também o romance de Samuel L. Clemens (mais conhecido como Mark Twain), A Connecticut Yankee in the King Arthur’s Court, que estou lendo agora.  Todos os presentes confirmaram também não terem lido o romance.  Senti alívio: a lacuna de ignorância literária não era só minha…J  Em contrapartida, Ana Cris mostrou-nos o livro O Cair da Noite, de Isaac Asimov, novela que ela traduziu para o português.  Esse livro chega ao mercado com um acabamento caprichado, capa dura e ilustração retrô, prefácio de Marcello Simão Branco e o escambau. Uma aquisição que vale a pena considerar, mesmo para quem já possui a noveleta numa coletânea ou antologia qualquer.
 
Ana Cristina Rodrigues, Max Mallmann e Jorge Pereira.

Carlos Eugênio Patati, Luiz Felipe Vasques e GL-R.


Para gáudio da Ana Cris, a narrativa do ianque Hank Morgan em Camelot e adjacências levou-nos à temática das fantasias medievais em geral e das fantasias arturianas em particular.  Confirmei-lhe que Twain realmente situa sua narrativa de história alternativa ou história oculta (como sói acontecer nesses casos, só será possível proferir o veredicto final ao fim da leitura) avant de letre no século VI, o que prova que ele estava razoavelmente bem informado para a época em que escreveu uma narrativa de viagem temporal não-tecnológica na penúltima década do século XIX, antecedendo em alguns anos a publicação de A Máquina do Tempo, de H.G. Wells.  Tenho impressão de que Twain logrou estabelecer um diálogo frutífero com outros romances medievais escritos naquele século, mas precisaria lê-los ou, em alguns casos, relê-los, para confirmar esse ponto.

Das fantasias arturianas, passamos aos romances históricos medievais propriamente ditos, com ênfase óbvia no Ivanhoé, de Sir Walter Scott, autor que chega a ser citado explicitamente em A Connecticut Yankee...  Dos romances históricos à história real da Idade Média e dali à Idade Moderna foi um pulo.  Falamos sobre questões dinásticas do ducado da Borgonha (ante o vastos conhecimentos de minha amiga, limitei-me a ouvir e aprender) e dos reinos da península ibérica, com atenção especial à sagacidade matrimonial de el-Rei Dom Manuel o Venturoso ao decidir desposar a princesa espanhola inicialmente destinada a seu filho e herdeiro no trono português.  Pois, em circunstâncias ligeiramente diversas, a estratégia do velho monarca poderia ter resultado numa Unificação Ibérica sob égide lusitana, em vez de espanhola.  Um belo exemplo histórico de uma estratégia brilhante que não deu certo...

Max, Jorge e Felipe esmiuçaram o triste caso de Macarrão no julgamento do ex-goleiro Bruno, indiciado por sequestro, cárcere privado e homicídio da ex-namorada.  Quando alguém comentou que Macarrão teria se afirmado humilhado pelos companheiros de prisão, o trio maldoso tripudiou sobre prováveis sevícias infligidas na prisão: “com aquela tatuagem, ‘Bruno e Maca, amor eterno’, o que é que ele queria?”  As agruras de Macarrão no Caso Bruno.  Também se cogitou uma variante da popular meinha com troca de juras de amor em tatuagens em vez de favores sexuais.  Ao que parece, Macarrão resolveu desistir de se imolar em prol do ex-amigo de infância e botou a boca no trombone.  Vamos ver no que vai dar...

Ana Cris comentou que não poderá comparecer à Bagunça Literária que se desenrolará lá em Sampa no próximo sábado.  Com essa ausência inopinada, minha amiga me delegou a missão de trazer de volta para o Rio uma data de biscoitos que lhe será trazida pela autora portuguesa Valentina Silva Ferreira.  Valentina já publicou diversos trabalhos deste lado do Atlântico, dentre os quais destaco — por razões óbvias — o conto “Sexo de Água, uma Mutação Tentadora”, lançado na antologia Erótica Fantástica 1, que organizei para a Draco este ano.

Não sei por que cargas d’água a conversa derivou para o alcoolismo de Ulysses S. Grant, comandante-em-chefe das forças da União na segunda metade da Guerra Civil Americana.  Destrinchamos a estratégia de Grant, o Açougueiro, e Sherman, o Flagelo de Atlanta, bem como os papéis desses generais no propósito do presidente Abraham Lincoln de aniquilar definitivamente a sociedade escravista do Velho Sul.

Comentei com Max que estamos presentemente assistindo uma espécie de maratona do seriado da Rede Globo, A Grande Família, em que ele atua como roteirista.  Andamos gravando uns sete ou oito episódios seguidos e só agora encontramos tempo para assisti-los.  Uma das atrações mais legais da temporada atual é um personagem gay cujo pai era amigo de infância do Lineu e que acabou se tornando sócio da Nenê.  Outro aspecto interessante é a inserção gradativa dos personagens do universo digital da internet, redes sociais, Facebook e outros que tais.  Quando começamos a assistir um episódio novo de A Grande Família, aqui em casa sempre apostamos se o roteiro tem ou não participação do Max Mallmann.  Sem falsa modéstia, cumpre confessar que acertamos em cerca de 90% das vezes.

Estevão Ribeiro chegou direto da redação quando eu já estava em plena sobremesa (torta suíça), após um copo de mate diet e uma coca zero.  Mesmo assim, cavamos tempo hábil para que ele detalhasse o desenvolvimento do projeto de sua graphic novel verniana Da Terra à Lua e me falasse um pouco sobre o êxito de vendas de seu livro Os Passarinhos e Outros Bichos.

Aliás, Ana e Estevão contaram que esse último foi até Itaguaí pelo O Dia, para uma matéria sobre o projeto do submarino nuclear brasileiro, que acabou não sendo publicada...

Eduardo foi outro que chegou mais tarde, numa hora em que todos já apostavam em novo forfeit, embora ele tenha chegado antes do Estevão.

A saída, lamentei um pouco do excesso de trabalho este ano na Prefeitura, mas, enfim, nada que seja novidade ou que valha a pena comentar.  O importante é que, na despedida, ao saber que lançarei a coletânea Histórias de Ficção Científica de Carla Cristina Pereira no próximo sábado na Bagunça Literária, o pessoal cobrou um lançamento carioca.  De repente, combino com o Erick Sama um evento conjunto com a Erótica Fantástica 1 lá na Blooks...

Eu, Eduardo e Jorge saímos juntos do Estação Gourmet e tomamos táxis em frente ao estabelecimento.

No todo um bom encontro, pois eu estava realmente precisando colocar a conversa em dia com meus amigos da ficção científica carioca para desopilar um pouco.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 23 de novembro de 2012 (quinta-feira).

 


Participantes:
Ana Cristina Rodrigues
Carlos Eugênio Patati
Eduardo Torres
Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Jorge Pereira
Luiz Felipe Vasques
Max Mallmann

2 comentários:

  1. Por limitações geográficas, não consigo participar dos interessantes encontros que vocês promovem no RJ, mas sempre os acompanho por meio de suas crônicas. Contudo, desta vez não consegui apenas lê-la, tanto que agora redijo este comentário. Digamos que o comentário funciona como uma máquina do tempo, uma forma de participar de um encontro que já aconteceu. Durante a conversa, resolvi acrescentar ao debate sobre IVANHOÉ: "Até 1891, os EUA 'pirateavam' os direitos autorais de obras inglesas. Isto fez de IVANHOÉ um best-seller também em terras americanas. Boa parte dos romances de Twain criticam o romantismo exagerado de Scott e sua influência sobre a literatura norte-americana. Não apenas 'A Connecticut Yankee in King Arthur's Court', mas também o conhecido 'Adventures of Hucklberry Finn'". Era isso! De volta ao presente!

    ResponderExcluir