domingo, 2 de novembro de 2014

Primavera dos Livros Carioca 2014

Dia 02.

201410312359P6  —  19.838 D.V.

“A Draco é carioca?”
(Pergunta campeã de audiência no estande da Draco).

Nesta sexta-feira saí direto de casa para o Palácio do Catete, a fim de participar de mais um dia na Primavera dos Livros.  Porque, como o Prefeito transferiu para hoje o feriado do Dia do Funcionário Público, não precisei comparecer à SMF.  Assim, sob um calor típico do verão carioca (das delícias do aquecimento global antropogênico...), tomei um táxi que levou seu tempo para chegar ao Palácio do Catete.
Chegando ao mítico Estande 51 da Draco, deparei-me com Dana Guedes e Ana Lúcia Merege em plena atividade.  Notei a ausência do estande 50, ontem desocupado bem ao lado do nosso, espaço que aproveitamos como mesa de autógrafos.  Pouco depois, chegou o casal Cirilo S. Lemos & Leandra Oliveira, que ficará responsável pelo 51 ao longo do fim de semana.  Cirilo é o autor do romance O Alienado (Draco, 2012), uma distopia fantástico-onírica que funde elementos da ficção científica clássica com críticas ao totalitarismo, como em 1984 e Nós, à temática do simulacro e da realidade virtual, como em Matrix e 13º Andar — Uma narrativa contada em três ou mais tempos, abordando as dificuldades de jovem problemático em se encontrar e em definir a realidade, em mais de um nível.  Além disso, publicou bela noveleta “Auto do Extermínio” na antologia Dieselpunk, que organizei para a Draco em 2011.[1]

Estande 51 da Draco: já sem o estande 50 da véspera.

Somente hoje descobri que Dana é a modelo da capa da antologia Meu Amor é um Sobrevivente (Draco, 2013).  Atendendo ao pedido, ela posou para uma foto ao lado da capa, tirando os óculos para acentuar a semelhança óbvia.
Encontrei hoje na Primavera dos Livros meu amigo de longa data Marco Bourguignon, antigo editor do prestigioso fanzine Scarium.  Há tempos que não nos víamos, pois Marco andou sumido por conta de um mestrado cursado em Portugal, mas agora regressou para o Rio.

Ana Lúcia Merege, Dana Guedes e a Capa de Meu Amor é um Sobrevivente.


Cirilo Lemos & Leandra Oliveira, Ana Merege e GL-R.


Marco Bourguignon e GL-R.

Pouco depois, chegava Luiz Felipe Vasques, animado e eufórico como sempre.
Quem passou por nosso estande com a esposa e a filhinha foi o autor de fantasia infantojuvenil Marcelo Amaral, companheiro de outros certames.
Por volta das 17h00 caminhamos por cerca de duzentos metros nos jardins do Palácio do Catete, regressando ao prédio principal, rumo ao auditório da instituição, para assistir a palestra “Literatura Fantástica — da Odisseia a Harry Potter”, ministrada pela Ana Lúcia Merege.  Essa atividade devia ter sido originalmente uma mesa-redonda, que Ana dividiria com o autor Felipe Castilho.  No entanto, a organização da Primavera dos Livros não providenciou a passagem aérea do Felipe em tempo hábil, impedindo-o de comparecer.  O mais curioso é que o nome dele foi anunciado várias vezes, junto com o da Ana Merege, pelo sistema de alto-falantes espalhado pelos jardins.  Mais um exemplo típico de esquizofrenia organizacional.J

Mesa-Redonda que Virou Palestra: Literatura Fantástica
da Odisseia a Harry Potter.

Enquanto esperava no auditório com climatização perfeita, bati um papo com o Luiz Felipe e o Marcos Archanjo, membro antigo da comunidade carioca de literatura fantástica.  Archanjo contou-nos que procurou os serviços da Prefeitura do Rio de Janeiro hoje e bateu com a cara na porta, por causa da transferência meio de última hora do feriado.
Ana Merege proferiu sua fala de maneira segura e profissional com o auxílio de uma apresentação enxuta em PowerPoint.  Nem mesmo um mau contato intermitente no microfone logrou atrapalhá-la.  Como o subtítulo da palestra já indicava, Ana no brindou com apanhado histórico da literatura fantástica, começando pelos contos de caçadas em torno das fogueiras mesolíticas, passando pelas narrativas tribais que acabaram se tornando as primeiras mitologias e pelas gestas medievais, as narrativas de viagens extraordinárias, até desembarcar no horror gótico, na fantasia e na ficção científica.  Em seguida, ela delineou brevemente os principais gêneros da literatura fantástica e suas subdivisões, com ênfase óbvia para a fantasia, que é sua área de atuação.  Por fim, falou um pouco de seus próprios universos ficcionais, tanto dos trabalhos já escritos quanto daqueles ainda por escrever.  Show de bola.

Ana Lúcia Merege Palestrante: apesar do microfone e do piano
de cauda ao fundo, é literatura fantástica em ação!

Autora fala de sua obra.

GL-R, Marcos Archanjo e Luiz Felipe Vasques.

Na saída da palestra da Ana Merege, havia uma mesa com água gelada, café e biscoitos para o público estacionar por um ou dois minutos e trocar impressões sobre a apresentação.
Do auditório, voltamos para o Estande 51.  Neste instante, por volta das 18h00, o céu enegreceu de repente e desabou um temporal bem forte nos jardins do Palácio, não obstante a previsão meteorológica haver garantido tempo firme e descartado categoricamente a possibilidade de chuvas para hoje.  Felizmente, o caminho da edificação principal do Palácio até nosso estande é coberto por toldos, de modo que não ficamos molhados.  Em meio à tormenta, encontramos o amigo Jorge Pereira.
De volta ao Estande 51, encontrei André S. Silva, autor da bela noveleta “Xibalba Sonha com o Oeste”, que selecionei para a antologia Solarpunk (Draco, 2012), infelizmente ausente do estande da editora neste certame.
Durante o pé-d’água, a chuva invadiu o Estande 49, nosso vizinho mais próximo à direita, desde a remoção do 50, molhando vários livros do acervo.  No Estande 51, nossas meninas superpoderosas Dana Guedes e Ana Merege fizeram o possível e o impossível para proteger nossos livros, enquanto Cirilo, Luiz Felipe e eu segurávamos a estante, que o vendaval ameaça derrubar sobre a mesa do estande.  Felizmente, o clima caótico não durou muito.  A chuvarada amainou após cerca de meia hora e pudemos retomar nossas atividades normais, embora eu desconfie que muita gente tenha deixado de comparecer ao evento com receio que o temporal voltasse.

Chuvarada na tarde de sexta-feira na Primavera dos Livros.



Luta heroica para salvar o acervo no Estande 51.


Na bonança que se seguiu à tempestade, eis que ressurge nosso bom amigo Carlos Eugênio Patati.  Bernardino Freitas, mais conhecido como Dino, foi outro que apareceu após o temporal.  Conversamos um bocado sobre a aquisição de livros e hábitos de consumo.  Jorge e André aproveitaram a estiagem súbita para empreender uma retirada estratégica.  Pensei em fazer o mesmo, mas acabei permanecendo por conta do papo animado sobre diversos cenários históricos alternativos com Felipe, Dino e Patati.  Como historiador que é, Dino nos falou sobre as vicissitudes da elaboração de textos acadêmicos corretos e interessantes também para o público leigo.  Ele afirmou que nesta sexta-feira veio à Primavera dos Livros apenas para fazer um reconhecimento preliminar do terreno.  Amanhã será o dia da grande batalha, quando virá com uma mala para arrebentar a boca do balão, comprando tudo o que vir pela frente.
Quase na hora de ir embora, conversei brevemente com a graduanda Renata da Conceição, que cogita especializar-se no estudo de ficção científica.  Comentei com ela que a literatura de ficção científica constitui uma área de estudos proveitosa há décadas tanto nos E.U.A. quanto na Grã-Bretanha.  Também falei que aqui no Brasil já existem vários mestres e doutores com dissertações e teses escritas sobre ficção científica.
Despedimo-nos da Dana Guedes, que regressará para Sampa amanhã de manhã e saímos do Palácio por volta das 20h00, mas permanecemos por uma boa meia hora conversando junto ao ponto de táxi em frente à instituição.  Dali, Dino embarcou na estação de metrô do Catete, enquanto eu, Felipe e Patati, caminhamos em busca de um táxi até o Largo do Machado, onde, enfim, logramos fazer um motorista parar para nós.  Seguimos de táxi pelo Rebouças, deixamos o Patati no Humaitá e prosseguimos até o Jardim Botânico.  Durante essa viagem de regresso, conversamos sobre Noel Rosa, Madame Satã, as pesquisas recentes de Patati sobre revistas em quadrinhos publicadas no Brasil, e sobre um colecionador e roteirista, Oswaldo Lopes Jr., falecido no mês passado.

GL-R, Cirilo Lemos, Ana Lúcia Merege e André S. Silva.


GL-R e Jorge Pereira.




  
Dia 03.

201411012359P7  —  19.839 D.V.

Outubro já acabou, mas a Primavera dos Livros prossegue firme e forte fim de semana adentro.  Neste sábado, pensei em seguir direto da aula de italiano para o Palácio do Catete, mas o peso dos livros me convenceu a dar uma passada em casa para desová-los.  Aproveitei para almoçar um misto quente no pão árabe que a Cláudia me preparou.
Segui de táxi para o Catete neste que será meu último dia de participação nesta feira de livros dedicada às editoras pequenas e médias.
Já no caminho pelos jardins até o Estande 51 da Draco, encontrei Carlos Patati, que ontem comprara meu romance, Aventuras do Vampiro de Palmares (Draco, 2014) e hoje pretendia adquirir seu exemplar da antologia Super-Heróis (Draco, 2013), que organizei em parceria com o Luiz Felipe Vasques.
Ao chegar ao estande com a numeração mais sugestiva e icônica da presente Primavera dos Livros, tanto para os bebuns de plantão (51?  Uma boa ideia!) quanto para os apreciadores de ficção científica e os cultores das teorias de conspiração de cunho ufológico, deparei-me com o casal Cirilo & Leandra, gerentes de vendas interinos & extraordinários da editora para o fim de semana.  Ana Merege também estava lá para dar uma mão.
Pouco depois, apareceu Flávia Corte, autora de literatura fantástica infantojuvenil de fina estirpe.  Falei um pouco sobre o universo ficcional do romance de história alternativa que estou lançando este ano.  Minha boa amiga não só adquiriu seu exemplar do Vampiro como trouxe amigos consigo para fazer o mesmo!J  Comentei com ela que haveria uma mesa-redonda hoje às 17h00 sobre literatura policial brasileira e foi o que bastou para que começássemos a conversar sobre os romances do Rubem Fonseca, que ambos apreciamos bastante.

GL-R, o Vampiro e Flávia Cortes.

Charles Echauer, GL-R e Flávia Cortes.


Coisa de meia hora mais tarde, apareceu um casal simpático de amigos do Luiz Felipe Vasques: Márcia Neves & Fernando Roig.  Enquanto aguardávamos a chegada de nosso amigo comum, eu e Patati encetamos um bate-papo animado com os dois.  Descobrimos que o casal possui dois canzarrões mal-humorados, até amáveis com seus donos, mas invariavelmente furiosos com todos os demais.  Envergonhada, Márcia nos confessou já ter concluído um romance, posteriormente apagado durante uma reformatação incauta de disco rígido sem a prévia execução de um backup.  Fernando afirmou que a tese de doutorado da esposa quase foi para o beleléu da mesma forma, mas que, nesse caso, ele sempre se preocupou em fazer cópias de segurança para ela.  Aturdido com tamanha temeridade, não resisti ao comentário:
— Puxa, nunca salvar seus escritos...  Você deve ser do tipo de pessoa que adora viver perigosamente, né?
Ao que Patati enfatizou:
— Perigosamente só, não.  No fio da navalha!

Fernando Roig & Márcia Neves, Luiz Felipe Vasques e Carlos Patati.


Assim que o Felipe chegou, Patati coletou o autógrafo dele na Super-Heróis e se retirou.  Eu e meu coantologista escoltamos o casal do Estande 51 até uma tenda-lanchonete próxima em busca de água mineral ou outros bebes, pois estávamos já em vias de desidratação.  Porém, sem-vergonhas que só nós, acabamos caindo de boca uns doces portugueses maravilhosos que eram vendidos no local, o que só aumentou a nossa sede.  No meu caso, degustei um caracol, doce de massa folheada com farta cobertura de chocolate e recheio de brigadeiro.  Saboroso, mas um tanto enjoativo no fim, por causa do excesso de doçura.  Imagino que, se houvesse sido confeccionado com chocolate amargo, teria ficado perfeito.
Dessa tenda de comidas, regressamos brevemente até o Estande 51, onde encontramos o velho amigo Roberval Barcellos.  Autografei um Vampiro e uma Erótica Fantástica 1 para ele.
Do estande, eu, Cirilo e Roberval, seguimos até o auditório para assistir a mesa-redonda “Nacionalidade e Novidade Editorial nos Novos Romances Policiais”.  Além do autor consagrado do gênero, Luiz Alfredo Garcia-Roza e do jovem talento Raphael Montes, participou dessa mesa Cirilo S. Lemos, como uma espécie de estranho no ninho, um representante dos gêneros fantásticos inserido num debate sobre literatura policial.  Se bem que, quando paramos para pensar, é tudo literatura de gênero.  Raphael abriu a mesa falando um pouco da sua carreira e do drama de não poder situar seus protagonistas em sua vizinhança imediata, pois Garcia-Roza já o havia feito com policial Espinosa[2].  O próprio Garcia-Roza falou sobre a estrutura do romance policial e as motivações do personagem criminoso.  Cirilo falou das questões comuns entre as literaturas policial e fantástica.  Os três participantes da mesa-redonda abordaram, en passant e cada qual ao seu modo, a questão dos elementos de brasilidade nos gêneros literários em que militam — questão, aliás, que já havia surgido durante a sessão de perguntas da plateia ao fim da palestra da Ana Merege ontem à tarde.  Durante a sessão de perguntas dessa mesa-redonda, a plateia se concentrou mais em crimes da vida real do que na literatura policial em si.

Mesa-Redonda: Raphael Montes.


Mesa-Redonda: Cirilo Lemos e Luiz Alfredo Garcia-Roza.

Mesa-Redonda: "Nacionalidade e Novidade Editorial
nos Novos Romances Policiais.


De maneira geral, foi uma mesa-redonda de alto nível, equilibrada e instigante.  O único problema é que me senti o tempo todo como se estivesse vivendo numa linha histórica alternativa.  Uma variante histórica em que Rubem Fonseca jamais escreveu um romance policial.  Pois, por incrível que pareça, falou-se durante mais de uma hora sobre literatura policial brasileira sem se citar uma única vez o nome desse autor, em minha modesta opinião, o melhor autor nacional do gênero.  Cada vez mais surpreso, de vez em quando, eu me perguntava: Será que sou só eu que considero O Caso Morel; Bufo & Spallanzani; Agosto; e A Grande Arte, como romances policiais?  Será a definição de romance policial muito mais castiça e stricto sensu nesta linha histórica alternativa misteriosa em que este incauto veio parar?  Ou será que, nessa LHA, Rubem Fonseca prosseguiu com sua carreira na Polícia Civil?  Quem sabe, não chegou até delegado, como o Espinosa do Garcia-Roza?
Finda a mesa-redonda, troquei impressões com Dino Freitas e outros presentes na plateia.  Como eu, eles também se sentiram intrigados com o fato de Rubem Fonseca não ter sido citado.
Aliás, neste sábado na Primavera dos Livros, Dino Freitas foi apelidado “O Homem da Mala Vermelha”, pois, cumprindo sua promessa, compareceu ao Palácio do Catete armado de mala e bagagem, seriamente disposto a levar o maior número possível de livros de volta para o aconchego do lar.  Só eu autografei dois livros para ele em plena mesa-redonda: a Super-Heróis e minha coletânea As Melhores Histórias de Ficção Científica de Carla Cristina Pereira (Draco, 2012).  Mais tarde, de volta ao estande, passei um exemplar da antologia Como Era Gostosa a Minha Alienígena! (Ano-Luz, 2002) às mãos ávidas do Dino.
No caminho de volta para o Estande 51, encontramos com Ricardo França.  Uma vez lá, elogiei para a Leandra Oliveira o desempenho de Cirilo Lemos na mesa-redonda.  Ela não pôde assistir a participação do marido, pois havia permanecido no estande para tomar conta do negócio.  No próprio estande, encontrei Ana Cristina Rodrigues, ainda convalescente da rinite alérgica que a impediu de comparecer na quinta e na sexta.  Batemos um papo de cerca de dez ou quinze minutos.

Dino Freitas, Ricardo França, Cirilo Lemos, Roberval Barcellos e GL-R.



Cansado após três dias de certame na Primavera dos Livros nos quais investi em média seis horas diárias, pouco após a partida da Ana Cris, despedi-me dos amigos e me dirigi ao portão do Palácio, manobra de retirada em que fui acompanhado por Roberval Barcellos e Ricardo França.  Na saída, encontrei brevemente com o amigo Max Mallmann que acabava de chegar.
Roberval, França e eu descemos juntos para a estação de metrô do Catete, só parando de papear quando tivemos que nos separar para embarcar em sentidos diferentes.
Resumo da ópera: gostei muito de rever os amigos e comparecer ao Estande 51 da Draco durante estes três últimos dias.  Espero poder participar de eventos semelhantes num futuro próximo.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 1º de novembro de 2014 (sábado).



Participantes:
Ana Cristina Rodrigues.
Ana Lúcia Merege.
André S. Silva.
Carlos Eugênio Patati.
Charles Echauer.
Cirilo Lemos.
Dana Guedes.
Dino Freitas.
Fernando Roig.
Flávia Cortes.
Gerson Lodi-Ribeiro.
Jorge Pereira.
Leandra Oliveira.
Luiz Alfredo Garcia-Roza.
Luiz Felipe Vasques.
Marcelo Amaral.
Márcia Neves.
Marco Bourguignon.
Marcos Archanjo.
Max Mallmann.
Raphael Montes.
Renata da Conceição.
Ricardo França.
Roberval Barcellos.





[1].  “Auto do Extermínio” está prestes a ser publicada em inglês (com tradução de Christopher Kastensmidt) numa antologia dieselpunk.
[2].  Espinosa é apresentado ao leitor como inspetor da Polícia Civil, no romance O Silêncio da Chuva (Companhia das Letras, 1996).  Nos outros três romances do autor que li, Achados e Perdidos (idem, 1998); Vento Sudoeste (idem, 1999); e Uma Janela em Copacabana (idem, 2001), o personagem já aparece como delegado.  A maior parte das narrativas envolvendo o Espinosa se passa no bairro carioca de Copacabana.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Aventuras do Vampiro de Palmares na Primavera dos Livros Carioca 2014

201410302359P5  —  19.837 D.V.

“Não foram elas mesmas que propuseram o troca-troca?”
(Dana Guedes)

Hoje começou a Primavera dos Livros Carioca 2014, uma feira do livro anual que, como as anteriores, acontece nos jardins do Palácio do Catete, de hoje até domingo.  Como estamos no hemisfério sul, o evento se dá na primavera, ao contrário do que sói acontecer em Sampa, cidade do hemisfério oposto, onde, por mera questão de lógica geofísica, a Primavera dos Livros ocorre em abril.J
Cheio de lançamentos literários na cabeça, saí do trabalho mais cedo e tomei o metrô no Estácio.  Quinze minutos depois, chegava ao Palácio do Catete, por volta das 16h20.  Não imaginei que a Primavera dos Livros fosse tão grande: deve haver pelo menos oitenta estandes.  Além da Draco, vi por lá as editoras Vermelho Marinho, Mauad-X e Aleph, além de outras de que não me lembro agora.
Travei conhecimento com Dana Guedes, autora da Draco que ficará responsável pelo estande da editora hoje e amanhã (sábado e domingo ficarão por conta do Cirilo Lemos).  Dana participou da antologia Vaporpunk II (Draco, 2014), com o conto “V.E.R.N.E. e o Farol de Dover”.
Embora se desenrolasse no frescor dos jardins do Palácio do Catete, essa primeira tarde ensolarada da Primavera dos Livros foi bastante quente e abafada.  Por volta das 16h30 ainda reinava um calor intenso sob as tendas que protegiam os estandes.  Aliás, vamos combinar: primavera é o cacete!  Agora, sim, o verão carioca caiu matando com força total.
A programação de hoje no estande da Draco incluiu as sessões de autógrafos do meu romance fix-up de história alternativa Aventuras do Vampiro de Palmares (Draco, 2014) e da antologia Super-Heróis (Draco, 2013), que organizei com o Luiz Felipe Vasques.  A Super-Heróis já havia sido lançada há na Livraria Blooks, mas o Vampiro teve seu lançamento carioca hoje na Primavera dos Livros.[1]
*     *     *

Enquanto aguardávamos o início da sessão de autógrafos, que se iniciaria às 18h30, eu e Dana conversamos um bocado sobre nossas atividades de escrita, eventos e lançamentos que frequentamos, editoras nacionais de literatura fantástica, além de nossas preferências literárias e cinematográficas.  Dana contou que está aprendendo russo, idioma que considera mais difícil do que o japonês, que ela já domina.
Levei comigo dois pacotes da minha velha antologia Como Era Gostosa a Minha Alienígena! (Ano-Luz, 2002), dezesseis exemplares no total, para distribuir gratuitamente entre os amigos que ainda não possuíssem uma cópia.  Por volta das 17h30, duas jovens da organização da Primavera dos Livros passaram pelo estande da Draco e perguntaram se gostaríamos de participar do “Troca-Troca Literário”: doaríamos um ou mais exemplares dos livros do estande e, em troca, poderíamos retirar um ou mais livros doados por outras editoras participantes da feira.  Ora, como a Gostosa estava ali dando sopa, doamos dois exemplares, sem onerar o acervo da Draco.  Contudo, quando as moças se afastavam, bateu um sentimento de culpa.  Daí, virei para a Dana e perguntei:
— Será que fizemos bem?  Afinal, trata-se de uma antologia de contos eróticos?
Ao que minha amiga respondeu, pragmática:
— Ué, não foram elas mesmas que propuseram um troca-troca?
Alea jacta est.  Concordei e esqueci o assunto.
*     *     *

Alguns amigos passaram pela feira antes do início da sessão de autógrafos, como foi o caso da Mônica Chefer, amiga de infância da Cláudia, e da Vívian Araújo e do Lissandro da Rocha, dois amigos queridos da SMF.  Vivi & Lissandro regressaram à Primavera após sua aula de francês, mas Mônica não voltou para conferir o evento.  Dana ventilou que Octavio Aragão teria passado pelo estande da Draco e adquirido um exemplar da Super-Heróis.  Pena que não nos tenhamos encontrado.
Antes da chegada dos convidados, diversos visitantes da Primavera dos Livros pararam em nosso estande, admirados com a garridice das capas dos livros da Draco.  Em geral, conversavam um pouco conosco sobre literatura fantástica e então seguiam seus caminhos para o estande seguinte.  Uma meia dúzia de três ou quatro acabavam se confessando escritores (Oh, boy...).  Para esses, sempre solícita e paciente, Dana ensinava o caminho das pedras para a submissão de originais à editora.
Luiz Felipe Vasques, meu coantologista favorito, chegou por volta das 18h30, horário combinado para o início da sessão de autógrafos.
*     *     *

Ricardo França foi o primeiro a chegar para a sessão de autógrafos propriamente dita, adquirindo prontamente seu exemplar do Aventuras do Vampiro de Palmares.
Pouco depois, chegaram Mariana “Belly” Gouvin & Regina Jan.  Belly também adquiriu um Vampiro.  Em seguida, avistei meu irmão, Ricardo, ainda de longe.  Felizmente, pudemos conversar uns minutinhos.  Minha mãe e Ana Rosa Villas-Boas, minha amiga e chefe na Coordenadoria do IPTU, chegaram juntas.
Os amigos da literatura fantástica carioca, Alexandre Mandarino, Ana Lúcia Merege e Daniel Russell Ribas foram os próximos a chegar.  Infelizmente, dos três só pude conversar mais amiúde com o Daniel, que estava prestes a viajar para um fim de semana em Petrópolis com a namorada e para quem pude passar algumas dicas culturais básicas, pois ele não visitava aquela cidade aprazível desde os seus treze anos de idade.
Vivi & Lissandro retornaram da aula de francês a tempo de encontrar com a Ana Rosa no estande da Draco.  Conversamos um bocado sobre questões e problemas históricos e recentes do nosso trabalho na Prefeitura, bate-papo do qual minha mãe e Cláudia também participaram.
Cláudia chegou em seguida.  Declarou que me reconheceu de longe ao ter avistado minha carequinha...  É como eu sempre digo: há certas coisas que só toleramos sem maiores irritações quando ouvidas dos lábios da mulher amada...
Também apareceram lá na Primavera dos Livros as amigas do curso de italiano, Ivana Bragante e Sylvia Anna Fernandes, que exigiram autógrafos escritos no idioma del Belpaese nos seus exemplares do Vampiro.  Para evitar erros, escrevinhei um rascunho antes e o corrigi, à medida que meus conhecimentos rudimentares naquele idioma o permitiram.  Foi a primeira vez que recorri ao recurso do rascunho para autografar.  Preocupado, alertei a Dana que, se alguém pedisse um autógrafo em russo ou japonês, ela deveria redigir o rascunho para mim...  Nossa gerente de vendas interina não gostou nem um pouco dessa perspectiva, mas, pelo menos, não disse que não.
Conheci um fã de ficção científica, Felipe Vinha, para quem detalhei em pormenores (se você julga que se trata de pleonasmo vicioso, é porque não me conhece...) o enredo básico e o universo ficcional do meu romance de FC erótica A Guardiã da Memória (Draco, 2011), agraciado com o Prêmio Argos 2012 na categoria Melhor Romance.  Tenho a impressão de que Felipe gostou do que ouviu, pois acabou adquirindo um exemplar.
Alguns fãs da velha-guarda carioca compareceram ao evento, como Pedro Ribeiro, Henrique Braga e Marcel Nicolaevski.  Infelizmente, não houve oportunidade de conversar com eles.  Osmarco Valladão e Lila Montezuma também compareceram à sessão de autógrafos.  Ao menos neste caso, consegui conversar um pouquinho com o casal de amigos.
Quem eu vi apenas en passant, mal tendo tempo de lhe apertar a mão, foi o Tomaz Adour, da editora Vermelho Marinho, amigo que conheci coisa de quinze anos atrás, quando ele era sócio da Papel & Virtual, editora que lançou a primeira edição de minha coletânea de história alternativa, Outros Brasis, em 1999.
Outro amigo de velha data da Prefeitura que apareceu por lá foi Acylino Pessôa, com quem trabalhei em diversas ocasiões, dentre as quais nos Serviços de Atendimento Descentralizado da Lagoa e da Tijuca.  Conversei um bocado com o Acylino sobre a SMF de ontem e de hoje.  Também falamos um pouco sobre História (uma das quatro ou cinco graduações universitárias de meu amigo) e tive oportunidade de lhe mostrar uma foto recente com a Barbara, o Erich e a Ursulla, meus filhos já adultos que ele conheceu como crianças pequenas (no caso da Ursulla, praticamente bebê), na foto já com seus respectivos namorados ou cônjuges.
Quem chegou em seguida foi um outro amigo do curso de italiano, a alma de nossa turma, Luis Munhoz, acompanhado da namorada Monique, que veio com o pé imobilizado, muleta e tudo mais.  Não satisfeito em me prestigiar com sua presença, Luis ainda trouxe uma garrafa de um dos belos espumantes da vinícola catarinense Villa Francioni na temperatura perfeita, com cinco taças em seu kit especial.  Graças a ele, pudemos brindar em estilo ao sucesso dos lançamentos da Draco na Primavera dos Livros 2014.  Grande Luis!!!
Minha caçulinha, Ursulla, que também é nossa colega no curso de italiano chegou nessa hora, extenuada ao fim de sua maratona diária, mas mesmo assim honrou-me ao comparecer para prestigiar o lançamento e bem em tempo de brindar com Luis & Monique e conosco.
Três amigas do coantologista Luiz Felipe Vasques — Aline Vieira Fridman, Gisela Nonnenberg e Gisele Müller — prestigiaram o evento, adquirindo, cada uma, um exemplar da Super-Heróis.
Como sói acontecer, chega por último quem mora mais perto.  Foi justamente o caso do Silas Ferreira, meu amigo, colega e ex-chefe na Coordenadoria do IPTU.  Silas chegou de bermudas, trajes bem mais informais do que aqueles que costuma usar na repartição pública.  Conversamos sobre a maratona de revezamento que ele está prestes a correr com outros amigos do IPTU no próximo domingo e também sobre passeios em Visconde de Mauá e adjacências.  Tendo estado lá há bem pouco tempo, Silas nos forneceu dicas valiosas, inclusive, confirmando que a estrada foi asfaltada até lá em cima.
Por volta das 21h30, extenuados, mas felizes, deixamos o estande da Draco entregue às mãos seguras competentes da Dana Guedes e saímos do Palácio do Catete direto para a rua homônima.  Pegamos dois táxis.  O primeiro para minha mãe e o segundo para voltarmos para casa.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 30 de outubro de 2014 (quinta-feira).



Dana Guedes no estande da Draco.

Mariana "Belly" Gouvin e GL-R.

Meu irmão Ricardo: GL-R & RLR.

Amiga, chefe e fonte de inspiração: Ana Rosa Villas-Boas e GL-R.

Nata da FC Carioca: Alexandre Mandarino, Ana Lúcia Merege,
Dana Guedes, Ricardo França, Daniel Russell Ribas e Luiz Felipe Vasques.

Ana Rosa, GL-R, Vivi & Lissandro.

Autor em ação!

Mamma mia!: Il mio autografo in italiano...

Le miei care amiche: Ivana Bragante e Sylvia Anna.

Cláudia, Ivana, GL-R, Sylvia e Daisy Lodi.

GL-R e Acylino Pessôa.

Monique, GL-R e Luis Munhoz.

Dana Guedes, Daisy Lodi Ribeiro, GL-R & Cláudia Quevedo Lodi, Luis Munhoz & Monique.


Daisy, GL-R e Ursulla Quevedo Lodi.

Silas Ferreira e GL-R.




Participantes:
Acylino Pessôa.
Alexandre Mandarino.
Aline Vieira Fridman.
Ana Lúcia Merege.
Ana Rosa Villas-Boas.
Celso Moreira.
Cláudia Quevedo Lodi.
Daisy Lodi Ribeiro.
Dana Guedes.
Daniel Russell Ribas.
Felipe Vinha.
Gerson Lodi-Ribeiro.
Gisela Nonnenberg.
Gisele Abrantes Müller.
Henrique Braga.
Ivana Bragante.
Lila Montezuma.
Lissandro da Rocha.
Luís Munhoz.
Luiz Felipe Vasques.
Marcel Nicolaevski.
Mariana “Belly” Gouvin.
Mônica Chefer.
Monique.
Octavio Aragão.
Osmarco Valladão.
Pedro Ribeiro.
Regina Jan.
Ricardo França.
Ricardo Lodi Ribeiro.
Silas Ferreira.
Sylvia Anna Borda Fernandes.
Tomaz Adour.
Ulisses.
Ursulla Quevedo Lodi.
Vívian Araújo.





[1].  O lançamento nacional do Aventuras do Vampiro de Palmares se deu no primeiro semestre deste ano em Porto Alegre, por ocasião da Terceira Odisseia de Literatura Fantástica.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Argos 2014
no Planetário da Gávea

Planetário da Gávea.

201410182359P7  —  19.825 D.V.

Compareci neste sábado ao Planetário da Gávea para a cerimônia de entrega do Argos 2014, premiação patrocinada pelo Clube de Leitores de Ficção Científica (CLFC) para incentivar a produção de literatura fantástica nacional.  Em sua fase atual, o Argos possui duas categorias: melhor romance e a melhor ficção curta, premiando os melhores trabalhos do gênero escritos no ano anterior.  Além disso, também homenageia personalidades com papeis considerados relevantes no panorama do fantástico brasileiro, agraciando-os com o Argos Especial, uma espécie de reconhecimento pelo conjunto da obra.
Este ano a disputa estava acirrada nas duas categorias, com a Editora Draco aparecendo com vários concorrentes em ambas.  O escritor de horror André Vianco recebeu merecidamente o Argos Especial, pelo conjunto da obra.
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Vindo direto da aula de italiano sem passar em casa, saltei da carona na esquina da Visconde de Albuquerque com a Padre Leonel Franca.  Mal atravessei a avenida e encontrei o amigo Ricardo França, que também rumava para o Planetário.  França contou que está se ambientando no clima do fandom nas décadas de 1980 e 1990 através da leitura das edições digitalizadas do fanzine Megalon.  Iniciativa louvável de seu antigo editor, Marcello Simão Branco, que vem liberando aos poucos na rede (Bem que o CLFC podia fazer o mesmo com o Somnium, né?).  Comentamos que a comunidade brasileira de FC era muito menor naquela época e que quase todo mundo se conhecia pessoalmente ou pela troca de correspondência, afinal, naqueles tempos pré-históricos não havia internet e, muito menos, listas de discussão e redes sociais.  Éramos então mais ingênuos e, segundo alguns nostálgicos, mais felizes.  O que não chega a causar espanto, posto que os nostálgicos costumam situar a felicidade no passado.  De todo modo, tem sido interessante reler os artigos, resenhas, contos, colunas, cartas e opiniões publicados há coisa de vinte anos, numa época em que o fandom era mais jovem e idealista.  Como muitos jovens idealistas, alguns de nós julgávamos que iriam mudar o mundo com nossos escritos.  Ah, a juventude...  França, ao contrário, está lendo todo o conteúdo do Megalon pela primeira vez.  Com espírito de prospector arqueológico da FC brasileira, vem descobrindo os fatos pretéritos que inspiraram as lendas, desavenças e boatos atuais, bem como quem fazia e escrevia o que naqueles tempos de antanho.
Chegamos ao Planetário às 13h30, meia hora antes do horário previsto para a abertura dos portões.  Após uma tentativa frustrada de nos esgueirarmos para dentro pelo Teatro do Planetário, contornamos a grade da instituição até nos depararmos com o portão principal fechado.  Curiosamente, avistamos o autor gaúcho André Z. Cordenonsi do lado de dentro das grades.  Ele nos explicou que, como chegou lá muito antes, despertou a piedade de um vigia do Planetário, que acabou facultando seu ingresso.  Ficamos batendo papo através do portão fechado durante certo tempo, até que Clinton Davison, presidente do CLFC, emergiu do prédio principal da instituição com o tal vigia a tiracolo e autorizou nossa entrada, alegando ao funcionário que precisava do nosso auxílio para preparar o Datashow para a cerimônia do Argos.  Fizemos os quatro uma inspeção sumária à Cúpula Carl Sagan, onde se daria a entrega dos prêmios.  Porém, como lá não havia técnicos para nos auxiliar e tampouco funcionários para acender a iluminação da cúpula, batemos em retirada rumo a uma sala próxima, espaço que nos foi facultado por Brian Moura, hierarca do Conselho Jedi do Rio de Janeiro.  Mais ou menos por essa hora, chegou o Christopher Kastensmidt, acompanhado pela esposa Fernanda e o filho, esse último, devidamente caracterizado como Indiana Jones.
Chegada de Christopher Kastensmidt e Família.


Aliás, não foi o único, pois Clinton também se vestiu de Indiana Jones, com chicote e tudo o mais.  Aparentemente deslocada num evento de Star Wars, a fantasia foi uma maneira legal de homenagear Oswaldo Lopes Jr., fã e colecionador, considerado um dos maiores especialistas brasileiros na saga desse herói cinematográfico.  Oswaldo faleceu aos 49 anos, uma semana antes da cerimônia do Argos 2014.

Ricardo França, GL-R, Chris Kastensmidt, Clinton Davison, e A.Z. Cordenonsi.

Nosso herói em ação!


Antes da abertura dos portões da cúpula, apareceram Flávio Medeiros, Alberto Oliveira e Clóvis Costa, um amigo gaúcho do Flávio atualmente radicado no Rio.  Na fila de entrada, avistamos ao longe Eduardo Torres, Carlos Patati, Jorge Pereira e Octavio Aragão.  Conversamos um bocado sobre nossas experiências com a compra e leitura de e-books; novos autores de FC estrangeiros; organização e participação nas antologias já lançadas e ainda por sair; eventos futuros e outros assuntos correlatos.
Contei-lhes da minha leitura deliciosa do The Time Travel Megapack (Wildside Press, 2013), organizada por John Gregory Betancourt, que inclui um punhado de contos clássicos com a temática das viagens temporais, inclusive, “Project Mastodon”, do Clifford D. Simak, publicado originalmente em 1951 e que eu sempre julguei que fosse o trabalho do meu autor predileto havia sido mais tarde expandido em seu belo romance Mastodonia (Ballantine-Del Rey, 1973).  Ledo engano!  Tirando uma ou duas ideias básicas, conto e romance têm muito pouco a ver um com o outro.  Aliás, o Simak tinha esse hábito de revisitar e reexplorar temas que ele havia abordado en passant duas ou mais décadas antes.  Coisa parecida com o que H.G. Wells fez ao se valer do conto “The Chronic Argonauts” (1888) como fonte de inspiração para seu romance mais famoso, A Máquina do Tempo (1895).[1]  De todo modo, finalmente preenchi essa grave lacuna em meu currículo que era não conhecer “Project Mastodon”.
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A Cúpula Carl Sagan dispõe de 250 poltronas e estava quase toda ocupada.  A maioria dos presentes era constituída por fãs de Star Wars, uma vez que a cerimônia de entrega do Argos foi inserida numa tarde dedicada àquele universo ficcional.  Para quem ainda não conhece, a cúpula é moderna e confortável, suas poltronas anatômicas são dispostas como as filas de assentos de um anfiteatro grego, de modo que é quase impossível ao espectador ter sua visão do palco prejudicada pela pessoa sentada à sua frente.  Os nomes dos trabalhos e autores concorrentes deveriam ter sido projetados na própria cúpula desse espaço.  Contudo, infelizmente, o técnico responsável não compareceu e os mestres de cerimônia de cada categoria foram obrigados a ler os títulos e autores a partir do notebook do Clinton.

Plateia 1: Carlos Patati e Jorge Pereira.

Plateia 2: Eduardo Torres, Clóvis Costa e Flávio Medeiros.

Plateia 3: Ricardo Herdy, França e A.Z. Cordenonsi.

Argos 2014: Minutos finais do suspense...

Mr. President Bill Clinton Davison.


Após um introito breve, Brian Moura passou a palavra para o Presidente Clinton.  Porém, como esse ainda estava atarantado em fazer o Datashow funcionar, Brian e outro hierarca do Conselho Jedi Rio entretiveram a plateia durante alguns minutos com notícias e novidades sobre o universo ficcional que ambos cultuam.
Quando plateia e organizadores se convenceram de que o Datashow não iria mesmo funcionar, a cerimônia pôde enfim começar.  Clinton convidou o autor texano-gaúcho Christopher Kastensmidt para entregar o Argos Especial a André Vianco.
Christopher fez um belo trabalho ao apresentar uma breve visão panorâmica da carreira bem-sucedida do Vianco.  Em seu discurso de agradecimento, o homenageado falou um pouco sobre o dia a dia do escritor de literatura fantástica, destacando não só o prazer de criar universos, mas também as dificuldades das nossas labutas diárias e as atividades sociais das quais somos obrigados a abrir mão.

Christopher entrega o Argos Especial a André Vianco.



Em seguida, Clinton me convocou ao palco improvisado para entregar o Argos 2014 na categoria Melhor Ficção Curta.  Fiquei surpreso e emocionado com as palavras gentis do Mr. President ao me apresentar à plateia.  Sem ter preparado nada para falar, tergiversei algumas palavras sobre a importância da ficção curta na evolução do gênero de literatura fantástica em geral e da ficção científica em particular.  Em seguida, li a relação de concorrentes[2] e abri o envelope para anunciar o vencedor: “Viragem”, de Octavio Aragão, publicado na antologia Caçadores de Bruxas (Buriti, 2013).  Octavio pareceu algo surpreso e bastante emocionado.  Mais tarde declarou que não se julgava favorito nesta categoria, em virtude da qualidade dos trabalhos concorrentes.

Octavio Aragão, GL-R e o Argos 2014.


Finalmente, Clinton convocou André Vianco para entregar o Argos 2014 para o vencedor da categoria melhor romance.  Vianco leu a relação na tela do notebook[3] e anunciou o vencedor: Filhos do Fim do Mundo, de Fábio M. Barreto, publicado pela editora Fantasy.  Assim, voltei ao palco, pois o amigo Fábio havia me encarregado na antevéspera de representá-lo na premiação.  Agradeci os votos dos eleitores do Argos em nome do autor galardoado (sempre quis usar esta expressão!) e falei da importância de Fábio M(adrigal) Barreto para o fantástico nacional, não só como autor, mas como editor e articulador.  Fábio foi o criador do Prêmio Nautilus na década de 1990 e o editor do selo Unicórnio Azul em 2006, pelo qual lancei a coletânea de história alternativa Outros Brasis (Mercuryo), meu primeiro livro publicado no Brasil.

André Vianco entrega o Argos 2014 Melhor Romance.


Filhos do Fim do Mundo - Prêmio Argos 2014
Categoria Melhor Romance.



Encerrada a cerimônia do Argos 2014, concentramo-nos no portão principal do Planetário e dali seguimos a pé até a Praça Santos Dumont, onde ocupamos uma mesa no Bar do Hipódromo, uma galeteria bastante razoável da região que, além da climatização adequada, jamais se encontra tão lotada quanto o badalado Braseiro da Gávea, outra galeteria defronte à primeira.  Numa mesa comprida e bem abastecida por tulipas de chopes e latas de refrigerantes, degustamos linguiças, galetos, provolone à milanesa e risotos, e nos refestelamos nas fofocas mais recentes e cabeludas do fandom de literatura fantástica nacional; além de comentarmos sobre as expectativas e surpresas nas indicações e premiações do Argos deste ano; os cronistas romanos cujos textos digitais estão disponíveis em domínio público; as condutas marqueteiras e/ou divertidas das celebridades e subcelebridades do cenário literário brasileiro e internacional; os banhos frequentes dos brasileiros em viagem ao exterior; os casos médicos escabrosos (quase todos de caráter proctológico) assistidos pelo Doutor Medeiros no Pronto-Socorro de BH; e outros bichos mais.
Radiante, Octavio exibia o Argos 2014 dele para os amigos, enquanto eu mantinha o prêmio do Fábio Barreto profundamente malocado em minha bolsa, para evitar que algum aventureiro lançasse mão...

Bar do Hipódromo 1: Luiz Felipe Vasques, Octavio, Argos 2014 e Patati,


Descobri finalmente que a Lila Montezuma, namorida do Osmarco Valladão, não é afinal parente do célebre Professor Montezuma, grande mestre e figura legendária que proferiu aulas de história e geografia inesquecíveis no Colégio Marista São José (dentre outros estabelecimentos de ensino cariocas) lá pelos idos dos anos 70 do século passado.
Aproveitei a oportunidade para agradecer mais uma vez ao amigo Patati pelo convite para participar de uma mesa-redonda sobre ficção científica no Colégio EDEM no início deste mês na companhia do próprio Patati, de Bráulio Tavares e de dois pesquisadores da FIOCRUZ que empregam a ficção científica para estimular o interesse dos jovens pela ciência.
Também se falou sobre a possibilidade de se criar aqui no Brasil uma organização mais ou menos nos moldes da Science Fiction & Fantasy Writers of América (SFWA).  Nada pelo qual não tenhamos ansiado antes e sobre o qual não tenhamos debatido antes.
Em resumo: curti quatro horas de papos deliciosos e diversão excelente em companhia de alguns dos meus melhores amigos.  Dos presentes à cerimônia do Argos, apenas Eduardo Torres e André Vianco não puderam esticar na Hipódromo.  Uma pena!

Bar do Hipódromo 2: França, Cordenonsi, Alberto Oliveira, Flávio Medeiros.

Bar do Hipódromo 3: Osmarco Valladão, Felipe e Octavio.



Bar do Hipódromo 4: nossa mesa.


Saindo da Praça Santos Dumont, eu e Flávio Medeiros seguimos a pé até minha casa, onde buscamos a Cláudia para irmos ao show do Roger Hodgson do Supertramp no Vivo Rio.  Mesmo cansados, não pensamos duas vezes ao aceitar o convite do Clóvis Costa e do Flávio Medeiros.  Afinal, era para assistir o show num camarote maravilhoso (que no Vivo Rio é chamado “suíte”), com uma consumação de R$ 180,00 já incluída nos convites.  Em função da exaustão dos últimos dias, pensei muito mesmo antes de aceitar o convite: um centésimo de segundo inteirinho!  Programa sensacional em noite absolutamente memorável: O ex-vocalista e compositor do Supertramp apresentou várias músicas do repertório de sua antiga banda e alguns de seus sucessos solo relativamente mais recentes.  Como bom dinossauro que se preza, gostei mais das antiguinhas.  Bom, mas como ninguém é de ferro, fomos obrigados a acompanhar o espetáculo degustando algumas taças de um Catena Zapata Cabernet Sauvignon complexo e maravilhoso.  Vida dura, eu sei!  Mas, alguém tinha que encarar essa parada...J

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 18 de outubro de 2014 (sábado).


Participantes:
Alberto Oliveira
André Vianco
André Z. Cordenonsi
Carlos Eugênio Patati
Christopher Kastensmidt
Clinton Davison
Clóvis Costa
Eduardo Torres
Fernanda Kastensmidt
Flávio Medeiros
Gerson Lodi-Ribeiro
Jorge Pereira
Lila Montezuma
Luiz Felipe Vasques
Octavio Aragão
Osmarco Valladão
Ricardo França
Ricardo Herdy




[1].  A propósito, esse conto seminal do H.G. Wells se encontra em domínio público e, portanto, disponível para download gratuito.
[2]Concorrentes Melhor Ficção Curta:
“A Copa dos Mitos” (Christopher Kastensmidt), Brasil Fantástico (Draco);
“A Sacola da Escolha” (Maria Helena Bandeira), Brasil Fantástico (Draco);
“Lenda Urbana” (André Z. Cordenonsi), Somnium, clfc.com.br;
“Momento decisivo” (Luiz Felipe Vasques & Daniel Bezerra), Excalibur (Draco);
“Soylent Green Is People!” (Carlos Orsi), Solarpunk (Draco); e
“Viragem” (Octávio Aragão), Caçadores de Bruxas (Buriti).

[3]Concorrentes Melhor Romance:
Filhos do Éden: Anjos da Morte, de Eduardo Spohr (Verus);
Filhos do Fim do Mundo, de Fábio M. Barreto (Fantasy);
Glória Sombria, Roberto de Sousa Causo (Devir);
Homens e Monstros – A Guerra Fria Vitoriana, de Flávio Medeiros Jr. (Draco);
O Espadachim de Carvão, de Affonso Solano (Casa da Palavra);
O Homem Fragmentado, de Tibor Moritz (Terracota); e
Reis de Todos os Mundos Possíveis, de Octavio Aragão (Draco).